Washington abriu um precedente político e estratégico que destrói a histórica doutrina americana de nunca pagar resgates para libertar reféns. Esse conceito implicou, sempre, que os americanos usariam todos os meios, mesmo militares (e usaram muitas vezes), para libertar os seus cidadãos prisioneiros noutros países. Agora foi quebrada essa regra de ouro.
Seis mil milhões de dólares foi o valor para a libertação dos 5 reféns americanos presos no Irão, mais a troca de 5 iranianos detidos nos EUA. Assim sendo, o que se passou não foi uma troca de prisioneiros, ou reféns, ou o nome que se quiser dar, mas apenas um negócio entre a maior democracia do mundo e um Estado ditatorial teocrático, terrorista, e abusador e violador dos direitos humanos, em particular das mulheres.
Um negócio deste tipo não se faz. A administração e o presidente Biden deveriam envergonhar-se desta troca. Impensável. Putin, se precisar de divisas, já sabe o caminho. E qual o valor que os EUA estão dispostos a pagar por cabeça: mais de mil milhões de dólares. Será que é isso que o Kremlin vai exigir para libertar o correspondente do «Wall Street Journal»?
Washington, para se desculpar, invoca que os 6 mil milhões, apreendidos ao Irão em resultado de múltiplas sanções, só poderão ser usados para efeitos humanitários, e sempre vigiados pelo Tesouro americano. Estão a gozar, certamente. Foram da Coreia do Sul para os bancos do Qatar, e isso basta como garantia para Biden.
Este negócio tem consequências desastrosas: qualquer cidadão americano passou a ser um ativo financeiro, ou a ter um preço nas costas, para grupos e regimes terroristas. E pior: afinal, o dinheiro e bens apreendidos através das sanções serão devolvidos ao infrator. Basta ter um refém americano. Grande Joe!
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