Putin precisa desesperadamente de munições e artilharia da Coreia – onde os três Kim investiram quase tudo – e certamente de uns sistemas de mísseis que lhes tinham vendido, há décadas. Para isso encontrou-se no fim do mundo com o sorridente e pesado Kim Jong-Un, que quer, já agora, tudo o que precisa e não tem: dinheiro, petróleo, gás, alimentos e componentes muito específicos para mísseis e ogivas nucleares. Que contentes que estão. Que felizes que ficaram.
Corre entre os analistas militares de vários países, que a Coreia do Norte até poderá estar disposta a enviar soldados para a fronteira russa com a Ucrânia, como um gesto histórico de agradecimento pelos milhares de russos, e chineses, muitos mais, que morreram na guerra da Coreia. Cada um faz o que pode, mas este abraço poderá ser mortal para os dois lados.
Se Kim abrir as portas do país, e enviar soldados para a frente, a Coreia do Norte correrá o risco de ficar vazia. Sem ninguém. Sem soldados nem armas. Quem quiser fugir, desaparecer, terá a sua oportunidade. De generais a soldados. Será que o Senhor Feliz se atreverá a abrir as fronteiras? Isto não é a fuga dos peregrinos, mas a debandada de um povo brutalmente maltratado, há mais de 70 anos. A Ucrânia pode resolver, de repente, a permanente inquietação de Seul e de Washington.
Quanto a Putin, a vergonha não poderia ser maior, mas ele está por tudo. Tem de «sacar» aos seus velhos amigos, e a quem andou a vender armas durantes décadas, todo o arsenal que ainda possa ser utilizado. É verdade que esta guerra é de quinta geração, com uso intensivo de drones e mísseis, de todos os tipos – os EUA vão enviar os famosos ATACMS – mas à falta dessa tecnologia, o Senhor Contente vai às sobras da Coreia do Norte. O material iraniano já não assusta ninguém.
É preciso reconhecer, contudo, que esta não era a estratégia nem o desejo de Putin: o que ele sempre quis foi a ajuda da China, e das suas infinitas capacidades, humanas e materiais, mas de Pequim só veio apoio não letal, e dúbias palmadinhas nas costas. O Irão e a Coreia do Norte acabaram por ter de sair do fim da lista, o que foi um deslumbramento. Há felicidade e contentamento no «Faroeste» russo.