Varsóvia – 12.07 horas locais – (11.07h de Lisboa): O caminho para Kiev começou, de madrugada, em Lisboa: a primeira etapa, na TAP, foi a mais serena, no turbilhão que se avizinhava. Ao meio-dia e sete minutos ( como mostra a foto) já estamos na sala de recepção do aeroporto de Varsóvia, e minutos depois «disparamos» para o hotel. Disparar é a palavra certa. Voamos na «bolha» de João Gomes Cravinho, da sua comitiva restrita – a adjunta do MNE, Marta Neves, e o chefe do Destacamento de Segurança, Francisco de Sousa – e de outros elementos. O Presidente já cumpre, manhã fora, parte do programa oficial da visita de Estado à Polónia. O nosso primeiro encontro é no hotel. Está bem disposto, como sempre, disponível e preparado para uma tarde em corrida. O PR é o princípio e o fim desta caminhada, e estará omnipresente nesta narrativa. E, particularmente, na última destas colunas.
O meu primeiro espanto, verbalizado, vem da viagem de avião. O MNE e a sua comitiva viajaram em económica, como mandam as regras, em escalas de curta distância, na Europa. Esta imposição, ou obrigação, tem tudo para ser ridícula. Nem a viagem era pequena (4 horas), nem a dignidade do cargo vai com esse provincianismo obsoleto. Ou miserabilismo fingido. Um membro do nosso Governo, qualquer um, não tem de ser enxovalhado e diminuído. «São as regras», dizem-me.
João Soares e José Pacheco Pereira são os meus dois companheiros. Que companheiros! Que parceiros! Não prometemos, não agendámos, não falámos, mas quando a Ucrânia vencer, mais cedo do que tarde, voltaremos juntos. Todos. Não os conhecia assim, de perto, mas fiquei grato ao PR por nos ter convidado. Ficámos amigos, próximos, digo eu.
Têm, obviamente, personalidades diferentes, percursos políticos diversos, e objetivos profissionais e pessoais distintos, mas convergem no que mais me surpreendeu naqueles cinco dias: são senhores de um conhecimento e uma memória invejável, de um humor espontâneo, e de uma delicadeza assinalável. Com eles, sempre a caminho de qualquer coisa, fiquei a conhecer a nossa História política e social recente, passada e futura. Desde antes do 25 de Abril. Durante. E depois. São memórias de muitos elefantes, com vivências pessoais e coletivas irrepetíveis.
Varsóvia, outra vez, e ainda. O programa oficial da visita de Estado é muito claro: «Visita oficial do Presidente da República à Polónia e Região»! Todos sabíamos o que era a Região, mas ninguém garantia que conheceríamos a ditosa. Dependeria. Logo se veria. Tudo em aberto, obviamente. Nem sim, nem não. No momento certo, se saberá.
Amanhã: Kiev ao amanhecer (III)
Notas de Rodapé: 1. Pacheco Pereira tem entre mãos uma das suas mais grandiosas obras: o «Arquivo Ephemera», que nasceu há mais de dez anos. São 250 mil livros, milhares de jornais e revistas, posters, pinturas e esboços, roupas e outdoors, panfletos de protestos, fotografias e outros objetos. A descrição tem de ser feita ao contrário: o que é que o «Ephemera» não tem, nos seus armazéns? Esse arquivo pantagruélico estará sempre conosco, de Varsóvia a Kiev, e de volta. Voltaremos a ele.
2. João Soares assume que foi inoculado, à nascença, com o vírus do «gramofone». Conhece Portugal de cima a baixo, por dentro e por fora. Com ele percorrem-se todos os caminhos, mesmo os mais difíceis. Dos vários projetos que acarinha e impulsiona, a história da ferrovia é um deles. Adora comboios, e fica furioso com a «bitola» portuguesa. Com razão, diga-se. É muito tranquilo, sempre bem-disposto, e de uma amabilidade inigualável. Grande companhia. O João e o José já se conheciam, obviamente, cruzando-se em muitos caminhos políticos difíceis, mas cada um no seu lugar. Ou bastião. Juntos maravilham, sem exagero.
3. João Gomes Cravinho foi uma surpresa agradável. É um dos incansáveis desta viagem, só batido pelo Presidente. Não é fácil ser ministro dos Negócios Estrangeiros. Voltaremos ao MNE.
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