Xi Jinping está indignado. O Governo de Pequim promete retaliar, e o Partido Comunista Chinês agita a fúria nacional. O balão rebentou. Que atrevimento, o de Biden. Que insulto diplomático. Que vergonha a operação militar americana. O balão era propriedade chinesa, voava a 20 quilómetros de altitude, inofensivo, grande, branco, e estava a recolher dados meteorológicos. Há uma raiva incontida em Pequim, que pode acabar mal para Washington.
Que mal fazia um balão a passear-se pelos estados americanos? Nenhum, até porque já tinha percorrido 10 mil quilómetros, pelo Pacífico. E alguém se queixou? Há outro na América Latina, também branquinho e inofensivo, e ainda ninguém protestou. E se algum dia aparecer um na Europa, convém não incomodar os chineses.
O assunto é sério, diga-se. Se os americanos mandassem um igualzinho para atravessar o imenso território chinês, Pequim jamais se atreveria a mandá-lo abaixo. Era só o que faltava. Venham os balões que vierem, e a Força Aérea chinesa não receberia ordem para matar. Ou furar. Ou abater. Só os americanos é que fazem isso. Têm sempre o dedo no gatilho. Malvados.
A China não vai ficar quieta. E com razão. O que os americanos fizeram foi «picar» o balão para ficar com a tecnologia. Um roubo, diga-se. Pequim, afinal, não investe em satélites, para vigiar as bases militares e silos nucleares nos EUA, mas apenas em balões, que são mais baratos, e esse segredo de Estado morreu na praia inimiga.
Pequim sempre jurou ter as mais modernas Forças Armadas do mundo, apoiadas pelos melhores meios de espionagem, e essa narrativa esfumou-se. Já não aterroriza. Eles usam uma peça da Primeira Guerra Mundial, é verdade, mas passava despercebida e não atrapalhava ninguém. É no que dá a mania dos americanos estarem sempre a olhar para a Lua. Xi já despediu o chefe desta tecnologia, mas o insulto mantém-se. Usar um F-22, do mais caro que existe, para deitar abaixo um balão de feira? Que vergonha. Que descaramento. Que insolência.
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