O Conselho de Ministros aprovou a compra de 117 novas automotoras elétricas, a que se somam as 22 que já tinham sido aprovadas. Finalmente uma boa notícia. Uma grande notícia, aliás. Se havia matéria de urgência nacional, que já deveria estar resolvida, era esta. Portugal, sem estas 132 locomotivas, não é nada. Não se move. Não se mexe. Não puxa pela carruagem. São mil milhões muito bem gastos, particularmente nesta fase, em que anda tudo a rebentar dinheiro na Saúde, e coisas do género.
Até acho, com franqueza, que também deveríamos usar o dinheiro do PRR, o fundo perdido de Bruxelas (e já que é perdido), na construção de uma nave para ir ao espaço, mais uma base de lançamento, vários edifícios de apoio, e um aeroporto espacial do mais moderno que existe. Está no eixo, no «core» da nossa salvação, como país, apostar tudo no turismo espacial. O outro, o vulgar, já temos, ou teremos, mas este é de uma grandeza e estilo que ninguém quer perder. E gera biliões futuros.
Um país que vai ter 132 novas automotoras, a fundo perdido – quem paga é Bruxelas – até pode pensar na possibilidade de vender metade, até antes de chegarem, e com isso encaixar mais 500 milhões. A explicação é fácil: o país é pequeno, em ferrovias e passageiros, e afinal só necessita de 66 locomotivas. Carruagens também não nos faltam, e até podemos vender comboios inteiros.
Convenhamos que há uma ironia nesta aprovação ministerial, mas foi uma coincidência infeliz: no momento em que estavam a comprar 117 novas locomotivas, decretavam o recolher obrigatório a quase 7 milhões de portugueses. Bem pensado. E já tendo essas novas máquinas, geraria um desaproveitamento inaceitável. Mas haveria sempre uma solução: acabar com o recolher obrigatório. É verdade que poderiam ter decidido noutra altura, para evitar tamanho espanto, mas o dinheiro começa a pesar nos bolsos do Governo. E a recuperação de Portugal também está nestas locomotivas, automotoras, ou o que lhe quiserem chamar. Foi o primeiro passo. Gigante e prioritário.