É necessário reconhecer, antes de mais, e com veemência, que a Ordem dos Médicos, o seu bastonário, Miguel Guimarães, e o coordenador do grupo de crise da Covid, Filipe Froes, têm atuado de uma forma exemplar, e incansável, nesta pandemia. Não poderia ser melhor. Estão em permanente alerta, escrutinam todas as decisões das autoridades, como deve ser o seu papel, em nome de uma classe crucial nesta crise, e ajudam com todas as capacidades e recursos ao seu dispor. Em bom rigor, reconheça-se, a Ordem foi o primeiro comando operacional desta batalha.
E é com esse dever, e direito, e saber, que apresentou uma nova matriz de risco, em colaboração com o Instituto Superior Técnico, que é extraordinariamente mais eficaz, em tempo quase real, para que todos os portugueses, e os seus decisores, possam estar habilitados a tomar as medidas de controlo e prevenção no momento certo. A matriz «oficial» está desatualizada, parece óbvio, tem dados muito atrasados (14 dias), para a velocidade da pandemia, e aos seus dois indicadores, Incidência e Rt, deve acrescentar-se a letalidade, internamentos em enfermaria e em cuidados intensivos, sendo que a escala tem 100 pontos, momento em que se atinge o Estado Crítico. Está muito bem construída, tem todos os parâmetros de risco que merecem especial atenção nesta nova vaga, e encurta para 7 dias os dados das médias ponderadas.
O Governo, bem entendido, pode achar que não deve mexer na atual matriz – tão ultrapassada que já teve de aumentar as escalas – mas não reconhecer que a Ordem e o IST fizeram um trabalho de inegável qualidade, e de total transparência da realidade, é continuar na praia, sem prancha, à espera da 5ª vaga. Sejamos práticos e claros. A matriz da Ordem responde integralmente ao que temos de saber e conhecer, todos os dias. A pandemia não é do Governo, é nossa e maldita.
Será indiferente, em qualquer dos casos, se o Governo e Infarmed não mudarem. Fiquem com a matriz deles. O que importa, e tem de acontecer, é que a matriz da Ordem e IST esteja disponível e acessível, todos os dias, para todos, e por todos os meios. Nesta matriz, e numa escala até 100 (Estado Crítico), Portugal já está nos 92,3 pontos, que é o Estado de Alarme, já avançado. Acima dos 100 entramos em Estado de Rutura, que bem conhecemos. Por favor, não finjam tranquilidade, e controlo da situação, quando não existe. Estamos a escassos passos da Rutura.