A vacina da AstraZeneca, a única aprovada de matriz puramente europeia, nunca conseguiu deixar ninguém tranquilo. Baralhou-se na corrida, meteu-se numa pista errada, e nunca conseguiu controlar os erros que o consórcio farmacêutico foi criando. Definitivamente começou muito mal, perdeu-se em explicações pouco sólidas, não respondeu aos compromissos assumidos, e enfrenta agora uma reavaliação científica, que não sendo propriamente um xeque-mate à vacina, causa um dano reputacional irremediável. Parece óbvio que a EMA e a OMS vão sossegar os 21 países, garantindo uma situação invulgar: a eficácia sobrepõe-se aos efeitos colaterais. Com este aviso, quem puder vai comprar outra.
Num curto espaço de tempo, mas o suficiente para danificar uma marca, a vacina da Astra começou por apresentar uma eficácia muito abaixo das concorrentes de então, a Pfizer e a Moderna, embrulhou-se em explicações atabalhoadas sobre a possibilidade de ser mais eficaz só com uma dose, ou menos produto, e afinal só com as duas doses, usa uma fórmula completamente diferente das outras, não deveria ser administrada a pessoas com mais de 65 anos (logo aqui uma sinal vermelho), comprometeu-se com milhões de doses, nunca conseguiu cumprir nenhuma das encomendas, e agora está suspensa em dezenas de países devido a efeitos secundários graves.
Isto não é uma vacina, é uma carga de sarilhos. E Portugal, infelizmente, foi um dos países que apostou em ter mais quantidade da Astra, do que da Moderna ou da Pfizer. Por ser muito mais barata, calcula-se. Foi azar? Talvez. Mas bem ficaria o Governo se avisasse Bruxelas que quer mudar as encomendas. E melhor ficaria se o presidente do Conselho Europeu, António Costa, convocasse uma reunião extraordinária para se avaliar o mecanismo de compra conjunta, e dar liberdade aos estados membros para fazerem as compras que entenderem.
Mesmo a propósito, os ministros europeus da Saúde decidiram reforçar os meios da EMA, como se o problema desta agência fosse a falta de pessoal ou de orçamento. Se já é gigantesca e paquidérmica, e absolutamente ineficaz, então aumenta-se o tamanho para empatar ainda mais. A EMA é como a vacina da Astra: não começou bem, nem conseguiu acertar o passo. Se fosse um desfile militar, executado milimetricamente, a Ema e a Astra destoavam. Por fim, conviria também saber, de uma vez, se a farmacêutica tem vergado a pressões políticas, sendo que para determinados países há sempre vacinas, e para os outros falta a matéria prima. Troquem a Astra, e eventualmente estaremos todos vacinados ainda este ano. E com mais segurança.