Os abusadores, os que foram vacinados indevidamente, e que se suspeita serem muito mais do que se conhece – a bastonária da Ordem dos Enfermeiros fala em ponta do iceberg – vão ser responsabilizados. Faz todo o sentido, também, perceber como é que funciona, na verdade, o processo de envio das vacinas, o número de doses enviadas, e por que razão se falhou no controlo dos prioritários? A ministra da Saúde revelou hoje que já estão vacinados 340 mil portugueses, mas apenas 70 mil com as duas doses. Desse universo global, quantos foram inoculados, indevidamente, por excesso ou sobra de vacinas?
Trafulhices não vão deixar de existir – e Portugal não é caso único – mas o processo de validação dos casos prioritários obriga a uma triagem rigorosa, e percebe-se que isso não aconteceu. A partir de agora, calcula-se, essa verificação deverá ser muito mais exigente. Há, desde logo, uma questão técnica, fundamental, que ainda não foi claramente explicada, e daí resultou em muitas das borlas que foram cometidas. Ao enviarem as doses para um determinado local, já em processo de descongelação, e com uma vida útil de 6 horas, e se algumas das pessoas não estiverem presentes, ou recusaram, o que é que se faz às vacinas que sobram? Ou enviadas a mais?
A Comissão de Vacinação percebeu esse problema já tarde, mandando agora fazer as listas de suplentes, para que não se deitem fora as vacinas que ultrapassem a janela de oportunidade. Se é assim, precisamos todos, os que não foram vacinados, que nos expliquem, ao pormenor, essa contagem e logística para o envio de vacinas. Sobram sempre? Mandam mais do que o necessário? E como é que elas chegaram a pessoas e sítios completamente fora do radar da primeira fase? As listagens não se confirmam, não têm nomes, nem funções, nem idade?
Nunca ninguém pensou que haveria a espertalhice ( pejorativo de espertalhaço) saloia para chegar à vacina por todos os meios? Isso não foi ponderado? Quem as tem guardadas só precisa de receber uma ordem, sabe-se lá de quem, para enviar uma dezena ou centenas para este ou aquele sítio, ou um centro de saúde? É assim tão fácil e simples? Se é para castigar quem abusou, não se esqueçam de quem foi desleixado. Duas coisas, pelo menos, já sabemos: se há sobras há desperdício, e o plano nacional está todo furado.