Às 9 horas da manhã de quarta feira, Biden e a mulher são recebidos na Casa Branca pelo presidente Trump e mulher. Em conjunto têm um pequeno almoço rápido. As primeiras damas percorrem a residência. Trump e Biden trocam as últimas impressões. O presidente cessante aproveita para destacar as maiores preocupações e ameaças aos Estados Unidos, e falam sobre o andamento do plano de vacinação do Covid. Entre as 10 e as 10.30h, o presidente eleito recebe o cartão com os códigos nucleares (na verdade é um cartão, tipo multibanco ou cartão de cidadão, que inserido no computador da «mala», lhe dá o poder final de autorizar o lançamento das armas nucleares). O quase ex-presidente deixa na secretária «Resolute», na Sala Oval, uma carta pessoal para o novo inquilino da Casa Branca, e voltam a juntar-se, os quatro, e partem em cortejo para o Capitólio. Às 12 horas em ponto, Biden faz o juramento de Presidente dos EUA, depois de Kamala ter feito o mesmo. O então ex-presidente e a mulher regressam à Casa Branca, onde se despedem do pessoal da residência, e são de imediato transportados no «Marine One» para a base de Andrews, onde viajam pela última vez no «Air Force One», em direção à sua residência pessoal. Biden, por essa altura, está num almoço no Congresso, que termina por volta das 15 horas, e segue todo o protocolo iniciático do seu novo cargo, assinando as primeiras ordens executivas. Na Casa Branca, entre as 12 e as 17h faz-se uma mudança frenética, completamente coreografada e executada ao milímetro, para que quando o novo casal presidencial chegar, para se preparar para o desfile, toda a residência já esteja com as seus objetos pessoais. Desde móveis, quadros até à roupa, que já está nos armários e gavetas certas. É neste momento, à sua entrada, que se apresentam os mordomos, e os dois camareiros pessoais do Presidente, tradicionalmente da Marinha. Bush filho, quando se apresentaram os camareiros, disse ao Pai Bush: «mas eu não preciso de camareiros. Servem para quê?» «Filho, vais habituar-te e eles são imprescindíveis».
Tudo isto seria uma história fabulosa. Bonita. Litúrgica. Uma sucessão de poderes na melhor tradição. Pois seria, mas não vai ser. Não vai acontecer. Não vai ocorrer. Pura ficção. Trump vai sair da Casa Branca antes das 12 horas, se possível muito antes para apanhar boleia no helicóptero e no avião, que seria uma cortesia de Biden. A querer esse último voo, tem de o fazer enquanto é presidente. Não há carta na secretária da Sala Oval, o cartão nuclear foi entregue noutro sítio, e o cortejo com os dois presidentes em direção ao Congresso não existirá. Pouco importa. Tudo o resto será igual, ou parecido, e quando Biden acordar, na manhã de quinta feira, depois de uma longa noite de bailes, já os camareiros escolheram o fato, a camisa, a gravata, e os sapatos. De Trump nenhum rasto. Nem um cabelo.