A União Europeia (UE) é tudo menos uma junção voluntária de Estado soberanos, em igualdade de direitos, que apostam num bem comum: solidariedade, coesão, e liberdade de pessoas e bens. A UE está transformada, há muitos anos, num Fundo Predador, com investidores de classe A, B, e C. E alguns dos que pertenciam à primeira categoria, como França e Itália, viram os seus poderes reduzidos ao que são: podem discordar, podem exigir, mas ninguém quer saber.
Sexta e sábado vai haver mais um Conselho Europeu, onde se espera, esperava, que saísse alguma coisa de útil para os países aflitos. O grupo dos 3+1, nórdicos e Áustria, não está para grandes gastos, nem apoios, e a senhora Merkel vem agora dizer que não sabe se vai existir acordo. É a tática habitual da chanceler, que tem sempre o mesmo objetivo: tornar o acordo improvável, difícil, quase impossível, para obrigar os pobres e endividados do Sul a aceitar qualquer coisa.
A União, agora, descaradamente, funciona assim: anuncia programas e ajudas de milhares de milhões de euros, para manter a ficção da solidariedade e coesão, mas os pormenores, e os detalhes, do diabo, levam uma eternidade a ajustar, a negociar, e sem isso não há dinheiro.
A UE, aliás, aplica uma tática muito bem ensaiada pelos Fundos, quando querem fazer uma aquisição: avançam com um valor, sempre muito bom (tal e qual a Comissão), e deixam que os vendedores, neste caso Estados recipientes, comecem a pensar e sonhar com o que vão fazer ao dinheiro. Nessa fase, já com os olhos a brilhar, os fundos começam a aplicar o torniquete. Isto não, aquilo só assim, aquele outro só vai com desconto, e mais um conjunto de truques retirados da manga, sempre nos últimos momentos. E aí sim, vem a estocada final: nestes termos ou nada.
É rigorosamente o que o Norte rico está a fazer ao Sul endividado e aflito. Para te emprestar (é disso que estamos a falar, na sua quase totalidade) este monte de dinheiro queremos reformas estruturais, Estado mais leve, cortes em apoios sociais, e mais impostos. Austeridade à séria. Esta União funciona como a Troika. Melhor ainda: como o Fundo Monetário Internacional. Até pagares, quem governa somos nós. Ao que chegámos.