A saber o que sabemos hoje, e até tendo em conta que os números não são fidedignos, porque há médicos, laboratórios e hospitais que não reportam, diz o Expresso, e de alguma forma reconhecido pela DGS, que está a fazer um rigoroso levantamento dos dados, num sistema informático que também não parece muito fiável, é percetível que este mês vamos bater mais recordes impensáveis, e evitáveis, há um mês e meio.
Em julho, por muito que nos custe, vamos atingir e ultrapassar os 50 mil contagiados, e ficar em cima dos 2 mil mortos. Basta extrapolar as médias diárias divulgadas, e ainda sem contar, tudo indica, infelizmente, com números que poderão ser mais pesadas do que conhecemos, até agora. Marta Temido sabia desta realidade, tal como a DGS e todos os peritos e cientistas, que aconselham o Governo nas “chatas” – diz Rui Rio – reuniões do Infarmed.
Qual é o impacto mais negativo destes recordes macabros? Os Hospitais de Lisboa e Vale do Tejo vão entrar num stress crítico de falta de espaço para internamento, e esgotamento das Unidades de Cuidados Intensivos. Já estão lá perto, com alguns a ter que mandar doentes para outras unidades da rede. E atingindo esse ponto, tal como aconteceu em todos os países, e no nosso caso no Norte, o número de mortes volta a subir pesadamente. Já não bastava estarmos a registar uma taxa de mortalidade geral muito elevada, quando comparada com o mesmo período de anos anteriores, como a isto se juntará a letalidade do SARS-CoV-2.
O Governo, e todas as outras autoridades políticas, tem um número que considera aceitável? São os 3 mil mortos até final de agosto, e 75 mil contagiados? Se tem, que diga. Uma coisa é certa, alguém, numa daquelas reuniões do Infarmed, já deve ter mostrado o resultado do algoritmo da evolução da pandemia em Portugal. E mesmo ponderando cenários médios, e não os mais pessimistas, porque os otimistas já eram, estas projeções arrepiam, e não devem estar muito longe da realidade. Ou até poderão ser piores, muito, se viermos a perceber que afinal estamos a lidar com dados irreais. Que vai fazer o Governo, se é que quer fazer alguma coisa? Manter-se relaxado, tranquilo, de braços cruzados, tomando tudo isto como uma fatalidade divina? Onde é que se perderam? Ou quando é que acharam que eram favas contadas?