1. Vêm aí vários novos partidos, mais do que alguma vez aconteceu desde o pós-25 de Abril de 1974. Tal corresponde à insatisfação quanto aos partidos existentes e à generalizada crença de que são irreformáveis por dentro, de par com uma vontade de participação política que, mal, só através de um partido pode realizar-se por inteiro. Deixando de lado o que resulta de simples desejo de afirmação/promoção pessoal ou de grupo, trata-se de um movimento democraticamente salutar e que no mínimo poderá contribuir para diminuir a abstenção. Situando-se a maioria desses novos partidos à esquerda, e propondo-se alguns contribuir para a sua unidade ou convergência, há dúvidas sobre se ou como isso poderá acontecer.
Nítido, desde já, é que nenhum tem ou sequer pode aspirar a ter, a curto?/médio prazo, a expressão e força de um Podemos e de um Ciudadanos, em Espanha. Porém, no modo de funcionamento, em particular na procura de novas formas de participação, na escolha dos seus candidatos a eleições, sobretudo o Livre/Tempo de Avançar constitui uma experiência a ter em conta, com a intervenção já de diversas figuras de respeitado percurso cívico, pessoal e profissional.
A tudo isto voltarei. Agora quero salientar que, face a este acrescido número de partidos, mais se impõe uma lei que há muito devia ter sido aprovada, e não foi, talvez por suspeita de antidemocrática, que não é, pelo contrário. Uma lei que acabe com partidos hoje de facto inexistentes, que não têm nem fazem nada de nada, mas aparecem a concorrer a eleições, às vezes como uma espécie de barrigas de aluguer, só contribuindo para criar confusão e problemas, mormente ao nível dos tempos de antena. Claro que não me estou a referir a partidos históricos e, a seu modo, sempre intervenientes, como o MRPP, ou a partidos recentes e ativos, como PAN, entre outros – e claro que a sua extinção só deve ocorrer se não fizerem prova de ter o número de membros e/ou apoiantes necessários para… constituir um partido.
2. Passos Coelho, que contra as evidências apregoa desejar consenso(s) com o principal partido da oposição, uma vez mais nem sequer o procurou num caso em que ele era exigível: a nomeação, para um novo mandato, do governador do Banco de Portugal. O primeiro-ministro não só não o fez como nem sequer informou o PS da decisão de manter no cargo o atual governador, no inquérito parlamentar ao BES/GES tão criticado por dirigentes do seu partido e do parceiro da coligação. O que obrigou esses dirigentes a contradições e contorcionismos frequentes nos políticos e que só contribuem para o seu desprestígio.
No caso, aliás, face mesmo aos fundamentos invocados para tal decisão, o correto e decerto consensual seria prolongar o mandato de Carlos Costa até à venda do Novo Banco – sendo o governador (o mesmo ou outro) nomeado apenas após as legislativas. Mas, sempre sob a capa da abertura, o primeiro-ministro é de uma enorme teimosia e autossuficiência, só faz o que bem entende e ignora mesmo as regras de uma sã democracia quanto ao que um governo em fim de mandato e de ciclo deve ou não fazer.
3. Não deve, por exemplo, prosseguir com privatizações irreversíveis a que se opõem todas as outras forças políticas e, quanto é possível sabê-lo ou intuí-lo, a maioria dos portugueses. Como acontece com a TAP. E se à TAP volto é porque Passos Coelho, de visita à Madeira, anunciou que as tarifas aéreas para os madeirenses passariam a ser mais baratas. Ou seja: ao mesmo tempo que privatiza, fazendo orelhas moucas às óbvias razões de interesse nacional que impõem continuemos a ter a companhia de bandeira portuguesa, anuncia uma decisão que significa na prática um explícito reconhecimento daquele interesse, em um dos aspetos em que se consubstancia: um dos aspetos, repito, entre outros estrategicamente pelo menos tão importantes como ele. O anúncio foi, aliás, incorreto, pois um primeiro-ministro não deve anunciar medidas que têm de ser formalmente decididas pela própria empresa, mesmo pública -deve, sim, informar que vai promover as diligências necessárias para que elas sejam tomadas.