Querida avó,
Fui recentemente visitar o Centro de Ciência do Café (CCC), em Campo Maior.
Sabias que o comendador Rui Nabeiro iniciou a sua atividade num armazém com apenas 50 metros quadrados? Tudo começou há precisamente 60 anos. Hoje a marca por si criada é líder no mercado nacional e marca presença em vários locais no mundo.
São tantos os empresários que têm a aprender com o comendador Nabeiro! É o principal empregador da região, desenvolve uma intensa atividade social e benemérita em todo o País.
Belíssimo discurso quando, no passado ano, recebeu o Globo de Ouro.
Tal como tu, este neto que tanto te ama também é viciado em café.
No entanto, no CCC, fiquei também a saber que há quem beba muitos mais cafés de que nós, imagina. O escritor Balzac era apreciador de café turco, chegando a beber 50 chávenas deste café por dia. E transportava consigo sempre algum café em pó para preparar a bebida onde estivesse.
Como vês, não somos só nós.
Como entendo perfeitamente o Balzac. A falta que me faz um bom café sempre que saio de Portugal.
Mas as cabras do Kaldi são as verdadeiras culpadas por existirem tantos apreciadores de café!
Segundo a lenda, um jovem pastor chamado Kaldi, observou que, durante a noite, algumas das duas cabras desapareciam durante algumas horas, e voltavam saltitantes. Kaldi ficou irrequieto, pois estava convencido que suas cabras estavam possuídas pelo diabo. Uma noite Kaldi seguiu as cabras e viu-as as comer pequenos grãos vermelhos. Pouco tempo depois as cabras começaram a dançar à luz da lua.
Kaldi recolheu alguns grãos e comeu-os. Tal como as cabras Kaldi também começou a dançar. Kaldi comentou o sucedido com um monge que começou a utilizar os frutos na forma de infusão, percebendo que a bebida o ajudava a resistir ao sono enquanto orava. Esta descoberta espalhou-se rapidamente.
De tal forma que, hoje em dia, depois da água, o café é a bebida mais consumida no mundo.
Vou beber um café.
Bjs
Querido neto
Conheço o comendador Nabeiro há muitos anos. Nesse tempo, eu estava viúva do meu primeiro mário e encontrei em Campo Maior um antigo namorado que pensou — tadinho… — que ainda teria alguma hipótese. Mas, pelo menos, serviu-me para alguma coisa: deu-me a conhecer o comendador Nabeiro e a D. Alice, e o centro cultural, também da responsabilidade do comendador, e onde ele dava aulas.
O comendador Nabeiro é um grande homem. E já não falo do café, nem da sua extraordinária fábrica (foi a primeira vez que vi um fábrica realmente bonita e pintada de várias cores) — o que já seria muito. Falo de tudo o que ele tem feito pela gente de Campo Maior.
Quando fui a um grande restaurante (também dele…), disseram-me logo que só tinha mesa no andar de cima, porque todas as mesas em baixo estavam reservadas para os miúdos das escolas que iam lá sempre almoçar.
Mas falemos então de café. Sabes que bebo 18 ou 20 cafés por dia, sempre sem acúcar — e um médico já me disse que podia continuar a fazê-lo porque o meu organismo absorvia imediatamente a cafeína. Por isso, eu dormia bem, não ficava excitada, nada.
Mas realmente Portugal é um dos sítios onde se bebe melhor café. Quando eu era jovem ia muito a Mondariz, na Galiza. O meu tio tinha lá um grande amigo, que criava um sobrinho, ligeiramente mais velho que eu, e com quem eu gostava muito de brincar. Chamava-se Eládio Clímaco, mas para mim será sempre Lalo.
E quando nós lá íamos a D. Clara, dona do hotel onde ficávamos, pedia-nos sempre para levarmos café!! E ela fazia-nos um preço muito especial, e tocava piano ao jantar (por acaso muito desafinado…).
Quando o meu filho e os meus netos viviam em Inglaterra, o meu terror era beber café… O meu filho trazia o café em canecas, e aquilo era mais água do que café. Quando o meu filho vinha a Portugal, já estava habituado àquela mistela! Mas com os anos curou-se.
E é isto.
Fica bem—mas não bebas muito café!!
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