Dia 35.
Fomos somando prémios atrás de prémios, e o “Óscar” já ninguém nos tira. Aliás, arrebatámos a taça dos World Travel Awards, o galardão mais importante do setor a nível mundial, três vezes seguidas. Lisboa e Porto conquistaram o estatuto de cidades cool, outras do interior começaram a cair no goto dos estrangeiros. E, com isso, o turismo e as receitas associadas bateram records: mais de 15 mil milhões de euros ano, cerca de 12% do PIB nacional, dezenas de milhar de empregos criados por trimestre.
Esta é uma história feita de bons e grandes números. Em oito anos, a oferta de alojamento em Portugal cresceu, recuperou-se e modernizou-se; as dormidas de estrangeiros subiram 80%. O turismo interno consolidou-se, as receitas turísticas deixadas no País pelos visitantes mais do que duplicaram, reforçando o seu peso nas exportações globais.
É evidente: foi o turismo a tábua de salvação para sair da crise que o País viveu entre 2010 e 2014. Foi na restauração, no Airbnb e nos negócios e serviços para turistas que muitos desempregados encontraram uma saída e montaram pequenas empresas, tal como foi no turismo que muitos desempregados não particularmente qualificados encontraram trabalho nos últimos anos.
Tudo o que impacte o setor do turismo afeta, por isso, com mais força Portugal. E se há setor que está altamente abalado com a pandemia da Covid-19 é precisamente este. Com as fronteiras fechadas e os aviões em terra, há milhares de negócios, grandes e pequenos, em sério risco. E mesmo quando as fronteiras abrirem e as medidas de confinamento forem levantadas, serão garantidamente muito menos os que se vão aventurar este ano a sair dos seus países, correndo riscos de serem apanhados por novos surtos.
A Organização Mundial do Turismo, que inicialmente tinha previsto uma quebra do turismo internacional na ordem dos 3%, anunciou, já a 24 de março, uma nova estimativa do impacto da pandemia, antecipando uma quebra do turismo internacional entre 20 e 30% no ano de 2020 (ver gráfico abaixo). Sendo Portugal um destino turístico por excelência, seremos com probabilidade dos países mais afetados. O INE fez uma conta rápida. Uma redução de 25% na atividade turística, tanto do turismo interno como do turismo de visitantes não residentes, determinará uma redução de 2,9% do PIB anual em Portugal.
O cenário não é famoso. Todos os que dependem destes negócios vão ter em 2020 um ano de caminho das pedras.
O que nos pode valer, apesar de tudo, é a forma como estamos a responder exemplarmente à pandemia e como isso está a ser reconhecido por todos também lá fora. Na hora de escolherem regressar, os turistas pesarão mais os riscos de ir para Itália ou Espanha, que ficaram com uma imagem mais negativa. Ao achatarmos a maldita curva de forma eficiente, ganhámos pontos para a nossa imagem internacional como País seguro, ordenado e capaz de enfrentar uma crise sanitária. E isso, no turismo, pode valer muito quando o setor despontar outra vez.