O anúncio que inspira esta crónica andou pelos jornais em dezembro de 1997 e prometia, naqueles radiosos primeiros anos de guterrismo, um amanhã sem preocupações. Por essa altura, o pujante e dinâmico Banco Português de Negócios (BPN) desafiava-nos a subscrever as aplicações financeiras do grupo para que pudéssemos encarar os tempos vindouros “com outra leveza” graças à segurança do investimento e ao retorno em benefícios fiscais. Ou melhor dito, citando a respetiva publicidade: “Tire um peso do seu futuro. E já agora dos seus impostos”.
Em 2002, já com um governo PSD no poder, o então administrador Oliveira e Costa, ufano, não disfarçava o orgulho na pedalada do banco numa entrevista ao Expresso: “No BPN, o crescimento deve -se ao forte alargamento da rede de balcões, à política de recrutamento e à forma como os colaboradores são tratados. No BPN, estimula-se a criatividade e o sentido de dever. O crescimento do BPN é vivo e bem harmonioso, como revelam os seus indicadores”. Como se estas palavras não fossem já de si luminosas, o ex-governante de Cavaco Silva assegurava: “Estamos aptos a suportar os efeitos das políticas de austeridade de que o país precisa sem deixarmos de continuar a crescer a bom ritmo (…) O BPN está ótimo e recomenda-se”, garantia, terminando com uma comovente nota pessoal: “O meu sonho renova-se no dia-a-dia no desejo de fazer bem a minha obrigação de criador de riqueza para o bem da sociedade”.
Quase 17 anos depois da entrevista, a história do BPN adivinha-se, ainda hoje, interminável. Condenado a 14 anos de prisão, o banqueiro Oliveira e Costa é agora um dos sete arguidos obrigados pela Justiça a indemnizar o Estado, o BIC e a Parvalorem em 98 milhões de euros. Mas segundo Vítor Caldeira, presidente do Tribunal de Contas, as “ajudas” dos contribuintes à banca, ascenderam, numa década, a 16,7 mil milhões de euros. Tradução: mais ou menos o que o Estado orçamentou para pagamento de pensões no ano passado. O problema, porém, é que a fatura “ainda não está fechada”, avisou ainda aquele responsável ao Jornal de Negócios.
Na verdade, tal e qual prometia o BPN, não há como “encarar o futuro com outra leveza” e ter banqueiros destes a criar riqueza “para o bem da sociedade”. É certamente um peso que nos sai de cima. Só não sabemos quando, claro.