É nesta época, em que tudo parece abrandar, que voltamos a olhar com mais atenção para o que verdadeiramente importa. Ao longo dos anos, entre aquilo que observei, vivi e o que me foi confidenciado por quem cuidei, percebi que o Natal vai muito para além das luzes e dos presentes. O Natal é um lembrete para algo que deve existir em nós todos os dias e que acontece, sobretudo, no encontro com o outro e na atenção que lhe dedicamos. É essa atenção – esse cuidar -, seja no hospital, nos lares, na nossa casa ou na comunidade, que confere sentido à vida.
Recordo tantos momentos em que, enquanto no mundo lá fora as pessoas se moviam apressadas entre tarefas e compromissos, alguém permanecia ao lado de quem vive o tempo de outra forma. Com a sua farda (ou não), atento, junto a pessoas cujo olhar guarda as memórias de uma vida inteira. E lá estava o enfermeiro, ao longo de todo o ciclo vital: a acolher a vida no nascimento, a acompanhar o crescimento durante a infância e a adolescência, a apoiar nos desafios da vida adulta, a amparar na fase de envelhecimento e, no final da vida, a intervir face às necessidades das pessoas e a ajudar famílias a despedirem-se com dignidade.
Este cuidado, sobretudo no fim da vida e nas situações de doença avançada, encontra eco nas palavras do Papa Francisco que, numa das suas partilhas, sublinhou a importância de não confundirmos “incurável” e “incuidável”, lembrando-nos que, mesmo quando a cura não é possível, é sempre possível cuidar da pessoa, oferecendo acompanhamento físico, psicológico, espiritual e, sobretudo, humano. Uma ideia inspirada no que São João Paulo II afirmara previamente: “curar, se possível; cuidar, sempre”.
Neste Natal, gostaria que recordássemos que o melhor presente que podemos dar não cabe em caixas, nem se embrulha em papel: chama-se tempo. Tempo para estar, para escutar, para acompanhar, para cuidar.
Que nós, enquanto enfermeiros, possamos permanecer presentes para os outros. Atentos aos detalhes, firmes perante os desafios. Que todos os que cuidam possam exercer a sua prática com competência, responsabilidade e serenidade e que todos os que são cuidados encontrem conforto, dignidade e sentido. Possamos, ainda, lembrar todos os outros que, mesmo quando a cura deixa de ser o caminho, o cuidado nunca deixa de o ser. Porque, no tempo partilhado, revelamos o valor de cada vida, mostrando que cuidar é, também, o melhor presente que oferecemos ao outro.
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