O Nobel de Ciências Económicas de 2024 foi atribuído aos professores Daron Acemoglu e Simon Johnson, do MIT e ex-economista chefe do FMI, e a James Robinson da universidade de Chicago. Não admira que todos ensinem nos EUA, tendo e conta que 13 das melhores universidades do mundo são americanas.
Daron Acemoglu, o 3.º economista mais vezes citado em todo o mundo, nasceu na Turquia, licenciou-se na universidade de York, onde Cavaco Silva estudou, e aos 25 anos já era professor do MIT. A decisão do comité Nobel sugere alguma tendência para selecionar investigadores ainda longe do final das suas carreiras e que se interessem por questões com relevância prática como, por exemplo a importância das instituições para o progresso das nações e o papel da inovação tecnológica, e que se importam com a divulgação das suas ideias junto do grande público, isto é não vivam numa torre de marfim.
Um dos primeiros e mais originais trabalhos destes três autores data de 2001 e investigou a relação entre a taxa de mortalidade nas colónias e o desenvolvimento de modelos de exploração extractiva (como no Congo belga) ou instituições semelhantes às das potencias colonizadoras (caso da Austrália).
Estão publicadas em português três das suas obras dirigidas ao grande público e nenhuma delas tem uma única fórmula matemática. São, por ordem cronológica, “Porque Falham as Nações” (2013), “O Equilíbrio do Poder” (2020) e “Poder e progresso” (2024). Todas elas têm relevância para percebermos a situação em que Portugal se encontra, nomeadamente a primeira, na qual é argumentado que a prosperidade das nações depende em grande medida do bom funcionamento e credibilidade das instituições, que no nosso país está muito aquém do admissível, dando razão a Charles Darwin, para quem “é grave quando a miséria de um país não resulta da falta de recursos, mas da miséria das suas instituições”.
Tive o privilégio de conhecer Daron Acemoglu no final de 2004, quando estava a fazer um semestre sabático numa universidade americana em Nova Iorque, através de um amigo comum, Philiipe Aghion, professor da Universidade de Harvard, que espero que também venha a ser galardoado com o Nobel, porque bem o merece. Nessa altura, havia a possibilidade de terem lugar eleições legislativas em Portugal e julguei ser meu dever ajudar a escrever um programa político, um roteiro que conjugasse ideias que acreditava serem sensatas e algumas bandeiras mobilizadoras destinadas a Portugal andar para a frente.
Foi então que nasceu a ideia do chamado Plano Tecnológico, cujas ideias centrais eram a convergência, a intervenção do estado na promoção do investimento e as energias limpas.
A questão da convergência – isto é, de a tendência natural para os países pobres recuperarem o seu atraso relativamente aos ricos – era um dogma. Porém, os estudos empíricos mostravam o contrário e um complexo artigo de Acemoglu publicado na prestigiada Review of Economic Studies em 2002 (portanto antes das grandes inovações da era digital que tiveram lugar sobretudo a partir de 2007) abria importantes pistas para explicar este fenómeno.
O progresso tecnológico era “enviesado” no sentido de, à medida que aumentava a produção, aumentava mais do que proporcionalmente a procura de trabalhadores com capacitações específicas que não existiam em muitos países, o que os podia condenar a ficar para trás, em vez de andarem para a frente. Foi então que nasceram as ideias das Novas Oportunidades (capacitação de indivíduos sem terem completado o ensino secundário), introdução do inglês como disciplina obrigatória desde o primeiro ciclo de escolaridade, criação do laboratório ibérico de nanotecnologia, aposta no ensino profissional, acordo de cooperação com o MIT e distribuição em massa de computadores portáteis nas escolas, etc.
A necessidade de promover o aumento da taxa de investimento assentou na criação do SIMPLEX e dos PINs , que se destinavam a reduzir o peso da burocracia (mas nunca a mudar regras existentes), na criação de linhas de crédito assentes no sistema de garantia mútuo que ainda perduram e foi enriquecida pela contribuição de Dani Rodrick, um colega de Acemoglu da Universidade de Harvard. Rodrick defendia uma ideia “soft” de política industrial, que na altura era muito criticada, mas hoje em dia representa a visão dominante, segundo a qual os governos devem usar os instrumentos ao seu dispor para promover as indústrias do futuro num país que tenha uma vantagem comparativa ou capacidade instalada, como em Portugal era notoriamente os casos da fileira do floresta, confeções e calçado, turismo e sector automóvel.
Sendo isto um conjunto de ideias simples e de bom senso, era muito diferente do “choque fiscal” que muitos defendiam na altura.
Passado pouco tempo sobre estas conversas que tiveram lugar no escritório de Acemoglu em Boston, o Presidente Jorge Sampaio dissolveu o parlamento e Acemoglu, Aghion e Rodrick vieram a Lisboa apresentar as ideias que tínhamos discutido em sessões das chamadas “Novas Fronteiras”.
Mantivemo-nos em contacto enquanto exerci funções públicas. Inicialmente, Acemoglu e Aghion tinham uma visão estática sobre o custo da introdução de energias renováveis e fiquei naturalmente feliz ao constar que mudaram posteriormente de ideias.