2020, com vírus
"2020, com vírus": O tempo na ponta dos dedos
No dia em que termina o Estado de Emergência, Paulo Mendes Pinto dá também por concluída a sua série de crónicas da VISÃO "2020, com vírus"

O separar das águas: Brasil e EUA vs Europa
São dois universos mentais totalmente antagónicos. Num, foi a ciência que esteve na base das decisões; noutro, foi o senso comum e a subalternização do conhecimento especializado

O novo ócio: praias sem areia
Há pouco tive um vislumbre sobre a abertura das praias em Sidney; por um corredor, os banhistas podem ir até à água, mas não podem ficar na areia…

O vírus silenciador
Parece que, em certa medida, o vírus nos obrigou, apesar dos exageros noticiosos, a olhar para o essencial e a deixar “futebóis” para outras alturas. Afinal, com esta pandemia acabámos por perceber que uma coisa é o momento do futebol, outra é a da luta coletiva conta uma doença

A vitória do senso comum
Mais que muitos milhões de norte americanos terem crescido a ouvir dizer que o criacionismo é que é correto, ouviram-no em meio escolar, colocado lado a lado com o evolucionismo, como se fosse uma teoria científica de igual valor e natureza

Morrer ausente
Posso entender, ao ver uma notícia na televisão, que os funerais não possam ser o momento de ajuntamentos. Mas ver partir um pai ou uma mãe sem poder fazer uma despedida, sem ver o rosto há largos dias porque a pessoa doente estava internada… é brutal

Prazeres por senha
O encontro fortuito, o choque acidental numa corrida para a água que resulta num olhar blasé que de indiferente nada tem e que dá fogo a uma paixão inesperada. Onde fica o espaço mental do não planificado, da nesga de responsabilidade que tem o acaso?

O Ramadão da Covid-19
Contudo, como será vivido este Ramadão em contexto de confinação? Este marco no calendário é um misto de recusa ao individual e afirmação do coletivo. Ora, como se vai viver, em termos de fé, um não-coletivo?

Regresso ao Sagrado
Seria de uma dramaticidade tremenda a necessidade de uma futura segunda confinação devido a uma indevida gestão deste processo

Os Excluídos da Recuperação
Hoje o vírus é democrático naquilo que a democracia tem de pior: chega a todos, mas nem todos têm a mesma capacidade para lidar com ele

Fez-se política: o processo de “desconfinamento”
E como se desejava o arranque deste processo, mesmo que para muitos seja o manter exatamente de tudo o que até agora se fazia ou, melhor, se não fazia. Mentalmente, está passada uma barreira mental

A instalação do medo
Mas temos de colocar limites éticos a este cavalgar assombroso rumo ao controle total das nossas vidas. Hoje é numa situação de pandemia, e parece-nos um sacrifício aceitável, amanhã é no dia-a-dia, porque já estamos habituados e pode ser sempre de alguma utilidade num caso de rapto, violação, etc

Decameron, o humano obrigatório
Urge, em cada ser que somos, ir a fundo nas questões existenciais a que este confronto com a morte nos obriga

À espera do desejo de mudança…
Também após o 11 de setembro de 2001 todos dissemos que o mundo não iria ser o mesmo

Em busca de sentido para o silêncio
A maior dificuldade que espiritualmente a confinação nos trouxe é a incapacidade que temos em estar sozinhos no confronto direto com o nosso interior. Como seria, cada um de nós, estar no centro do santuário de Fátima, à noite, sozinho? Ou na Praça de S. Pedro? Ou em casa, junto a uma janela a ver a paisagem, lá fora, livre de nós

Gaia, para lá de nós
Gaia é potência criadora. Gaia é “ação”, é reação, é o criar como resposta ao destruir. Sim, Gaia, a Terra, pode ser o equilíbrio, mas hoje a Terra tem tudo para reagir contra nós. Personificada nessa entidade grega, hoje vemos em Gaia a hipótese apocalíptica

A Páscoa da Covid-19
Se o centro teológico da Páscoa cristã é o sacrifício que permite uma nova Era, então hoje estamos, de facto, a oferecer o que tradicionalmente tínhamos para algo de maior e de futuro

Futebol, tremoços e Goethe
É um contexto único que nos mostra como um certo back to basics é possível e, acima de tudo, desejável

Porque “vai ficar tudo bem”?
Numa virose que se transforma em pandemia, este é mesmo o caminho: ir percebendo, aguardando, dia após dia, que o número de vítimas esteja a crescer menos…. Depois, sim, se tudo se mantiver, irá diminuir o número de internados, o número de infetados, até desaparecer o risco público

O preço de uma vida
o modelo económico que vivemos até há pouco pode estar em causa ou, pelo menos, ter de ser adaptado a uma realidade de muito maior pobreza. Seremos muito mais pobres, com desigualdades maiores e, acima de tudo, com uma parte de nós desempregados, com rendimentos muito diminuídos

Confinamento ou eremitismo? A busca do sentido
Hoje, com uma sociedade laicizada, com indivíduos mais cultos, mais exigentes para com as instituições religiosas, muitos, até, mais autónomos em termos espirituais, qual o papel das religiões? Estão a cumprir a sua função de apoiar os desfavorecidos, os mais frágeis? Ou estão também de quarentena no que de discurso de valores diz respeito?
