“A ideologia e a prática dominantes em oito anos de Passos tornam muito difícil que uma boa parte do PSD aceite o que Rui Rio deseja mudar, e até o seu estilo”, escrevi aqui a 22/2/2018. O que na minha ótica Rio desejaria mudar, tinha de mudar, era: a) “recentrar” um partido que reclamando-se, e chamando-se, “social-democrata”, passara a ser claramente de direita; b) pôr o interesse nacional, que pressupõe vontade e capacidade de diálogo e de entendimentos, à frente de uma cega “clubite” partidária; 3) fazer política com mais qualidade e abertura, menos agressividade e sectarismo. Tinha de mudar, em defesa e benefício do próprio partido, e para não termos cada vez mais a política desprestigiada e a democracia ameaçada.
No final, fazia uma pergunta: “Será que os Relvas, os Montenegros, os Hugo Soares e outros da mesma escola o vão (a Rio) compreender?” Adivinhava-se que não. E muitos dos que no poder fizeram o que se sabe e na oposição com virulência demonizaram o atual Governo, desde o início desencadearam uma autêntica guerrilha contra o novo líder. Colocando-o a “prazo”, até às eleições: não as ganhando o PSD, o que todos sabem (embora os próprios não possam admiti-lo…) hoje se afigura quase impossível, Rio seria chutado.
Mas afinal houve quem não aguentasse esperar. Primeiro foi um tal André Ventura, um extremista que Passos fez candidato à Câmara de Loures, a recolher assinaturas para um congresso extraordinário – não o conseguiu, saiu do PSD, está a fazer mais um partido. Depois, alguns dirigentes distritais ensaiaram o mesmo. Enfim, Luís Montenegro (LM) quis derrubar Rio num tempo e de uma forma que dão a sua dimensão política, e talvez não só. Sabe-se o resultado. Importa, porém, sublinhar a inexatidão ou mesmo falsidade de argumentos usados para justificar a ofensiva. Três deles, telegraficamente:
1) Para lá de alguns erros, Rio até agora teve o tipo de oposição que anunciou, fazendo política sem as constantes demagogia e cedência ao mais fácil, nem a frequente ausência de seriedade, de tantos dos seus pares;
2) Estas diferenças de Rio, o seu estilo e o recentramento do PSD só podem ser favoráveis ao partido, mesmo do ponto de vista eleitoral: o que não significa ter em 2019 mais votos do que em 2015, mas ter mais do que teria se continuasse na senda anterior, mormente com LM (este seria, para o resultado do PS, o melhor líder do PSD…);
3) Não é verdade que com Rio o PSD tenha descido, e muito, nas sondagens, embora isso até pudesse acontecer por força de “sucessos” do Governo. Com Passos, antes dos incêndios de 2017, o PSD tinha 23%; só depois subiu até 26%, pela descida do PS; nas autárquicas, sozinho, teve 16% (com 10% e 11%, em Lisboa e Porto), mais uma parte dos 8,8% nas listas com o CDS. Com Rio na penúltima sondagem (SIC/Expresso) chegou aos quase 27%, e na última desceu cerca de 2% – porque nela apareceu pela primeira vez, com 4%, a “concorrente” Aliança.
À margem: de facto Rui Rio não perdeu nenhuma das três eleições para a Câmara do Porto, embora em duas as sondagens indicassem o contrário (Montenegro perdeu-as em Espinho e, por exemplo, o seu destacado apoiante Pedro Pinto, em coligação com CDS, perdeu-as em Sintra, com 13,80%).