Impressiono-me sempre com aqueles que, estando no espaço político à direita do Partido Socialista, se assustam com a ideia de serem vistos como próximos da direita, que se preocupam com a possibilidade de se verem afastados de um sistema onde impera o consenso socialista ou social-democrata, que se apressam a exibir cada veia esquerdista que têm no seu corpo político.
É evidente que ninguém pode ser obrigado a ser de direita, a ser privado das suas convicções de esquerda, a abandonar o socialismo como espaço político. Mas faz pouco sentido que essas pessoas se dediquem a fazer carreira no espaço político à direita do socialismo, que se empenhem em denunciar, com asco, qualquer despontar de uma natural alternativa liberal-conservadora nesse espaço, que se coloquem como guardiões de um templo onde o PS reina e os restantes prestam vassalagem.
Se querem o socialismo e se querem a esquerda e se desconfiam da direita, pois têm bom remédio: fiquem na esquerda, que ela tem imenso espaço e gosta de albergar o sistema. E deixem de fingir que são uma qualquer alternativa ao socialismo e ao PS. Porque uma alternativa ao socialismo não é espalhar socialismo embora com uma sigla distinta, não é intensificar socialismo embora com origens distintas, não é pregar socialismo embora frequentando a missa.
Que sentido faz a inexistência de um projeto liderante de centro-direita e de direita em Portugal? Que utilidade tem um sistema partidário e político que se organiza exclusivamente na sombra do socialismo? Que democracia madura prescinde de uma alternativa ao socialismo?
Uma alternativa ao socialismo, como existe em qualquer democracia decente, em qualquer país com que ambicionamos comparar-nos, é uma alternativa capaz de albergar conservadores, democrata-cristãos e liberais; é por isso uma alternativa que se estende do centro à direita.
Desampare, pois, a loja quem tiver vergonha da direita democrática, quem se sentir incomodado com ela, quem quiser substituir o socialismo por socialismo.
Desampare a loja, sim, porque essa alternativa ao socialismo, que já existe na medida em que há quem a pense e quem a defenda e quem a projete, só tem condições de liderar, de vencer, se o seu espaço político for libertado de todos aqueles que parecem interessados em ocupá-lo apenas para garantir que ele não se desenvolve, se for dispensado daquelas almas muito sensíveis sempre que se ouve a palavra “direita”.
O País não pode ficar condenado a um socialismo obrigatório, vigente quando governa o PS, latente e vigilante quando governa o PSD e o CDS. O País não pode ficar refém do socialismo como penhor de todas as reformas, em que só o PS tem autoridade ou legitimidade para reformar o que quer que seja. O País não pode ficar reduzido a um Estado omnipresente, sócio de todas as empresas, convidado de todas as mesas, primeiro em todas as despesas.
Se o socialismo fosse bom, já o perguntei várias vezes, por que razão continuamos neste lento definhar, em que somos ultrapassados e raramente lideramos?
É esta a urgência e a razão de ser de uma alternativa ao socialismo.
Precisamos de libertar a sociedade, de deixar despontar a iniciativa, de exercer a liberdade de escolha, de dar espaço a quem quer lançar uma ideia, de sair da frente de quem está a fazer pela vida, de insuflar a nossa economia de competitividade e liberdade, de deixar cada um tentar construir o seu projeto de vida e de felicidade.
Liberdade, no fundo, que é não só essencial para que possa haver dinheiro para sustentar e financiar os serviços públicos e os apoios sociais como é também o mais poderoso instrumento para fazer face aos desafios que atravessamos enquanto país e enquanto continente neste mundo global.
Se à direita do PS há quem se sinta incomodado com este propósito, é porque talvez não acredite numa alternativa. Dispenso.