Chama-se TEM (Tendência Esperança em Movimento). O CDS sempre se caracterizou pela “riqueza” de, sendo pequeno, conseguir multiplicar-se em tendências (conflitos) internos. Esta sua característica nunca lhe valeu nenhum aprofundamento dogmático, mas saltos estratégicos da democracia-cristã para o populismo puro, consoante o cheiro a voto parecesse aconselhar. Europeu e eurocético, o CDS deu cambalhotas circenses, mudando de nome e arrancando retratos dos seus ex-líderes da respetiva sede.
Agora, há um novo CDS dos bastidores. Um CDS que pensa, a TEM, uma corrente fundada por cinco homens (claro) que anunciam tudo e o seu contrário. Começam por não ter gente recomendável, como é o caso de Abel Matos Santos, psicólogo com uma longa carreira homofóbica, durante a qual se dedicou a mentir sobre documentos da Ordem dos Psicólogos sobre a coadoção (foi factualmente corrigido), a invocar estudos invertidos para garantir que os homossexuais “têm mais doenças”, a apoiar a colega Maria José Vilaça que equiparou um filho homossexual a um filho toxicodependente e defendeu as terapias (nazis) de “reconversão”, entre outras preciosidades.
É, portanto, alguém que se tiver no seu consultório um jovem ou uma jovem homossexual procurando apoio não o ajudará a sentir-se bem consigo mesmo e a entender que pode ser o que quiser na vida, antes lhe explicará que é uma pessoa assim para o doente.
Esta corrente “contemporânea”, ao mesmo tempo que afasta a possibilidade de ser uma oposição a Assunção Cristas (aliviada por não ter de voltar a dar o rosto pela homofobia e pelo sexismo), assume que quer “influenciar” o CDS, ou seja, chegar ao poder.
Não são confessionais, dizem (bonita, esta necessidade de afirmar um pressuposto da democracia) “mas” (ui, a adversativa) são “democratas-cristãos” e apostam em quem? Nos “simples”. Nos “trabalhadores”, dizem.
Com uma política que afirmam ser social (porque é para os simples?) mas defendendo uma economia de mercado livre e a iniciativa privada. O mesmo é dizer que falam para as pessoas “reais”, que não se reveem no “sistema”, o mesmo é dizer que disparam em todos os sentidos. Até descobriram que o sindicalismo é património deles, imagine-se.
Sim, esse discurso que andamos a ouvir em todas as bocas populistas e extremistas que florescem nos EUA e na Europa.
Ou seja, tiros para apanhar todos: sindicalismo; liberalismo; livre escolha na educação; apelo aos trabalhadores descontentes com o sistema; forte oposição a essa “degradação” que foi conferir direitos a mulheres e a pessoas LGBT.
Não querem mais um discurso “redondo”. Querem pensar a “Europa sem complexos”.
Querem uma “política patriótica e de direita” (o que é isso?).
Têm razão. Não há nada de redondo nisto. O discurso já vem sendo feito. É linear.
O CDS dos bastidores faz parte do trumpismo que anda a vir ao de cima pela “graça” da queda da barreira do pudor.
Perigoso o silêncio do CDS em geral.
(Artigo publicado na VISÃO 1257, de 6 de abril de 2017)