JAPÃO, país onde o velho se senta orgulhosamente ao lado do novo e futurista. País de fortes raízes, de família e tradição. Lugar de fortes sabores, suaves odores e inesquecíveis paisagens.
Meu querido Japão, que sempre estiveste nos meus planos, quem diria que o nosso encontro iria ser tão prolongado!
Contigo descobri que o mundo tem fronteiras bem vincadas, sobretudo quando se preserva sabiamente o território e a cultura milenar, e que, nesta era de globalização, sabe tão bem ser único. És a estrela e a descrição, és tranquilo e intempestivo, és obediente e arrojado, és silencioso e esganiçado, és humilde e orgulhoso e um tanto ou quanto vaidoso. Mesmo assim, és e serás sempre um enigma.
Contigo aprendi a equilibrar-me num trapézio sem rede e a entender a verdadeira liberdade individual. Aí cresci, casei e fui mãe. Em ti aprendi o verdadeiro sentido da vida, o meu ikigai.
Ikigai poderia fazer parte do rol de nomes de fruta tropical raríssima do famoso sketch dos Gato Fedorento mas não, trata-se de uma filosofia de vida, de um conceito japonês que pode ser a chave para uma vida longa, saudável e feliz.
O conceito baseia-se na crença de que se acordarmos todos os dias com um objectivo e se nos mexermos e estivermos motivados em função dele seremos muito mais felizes. Para isso é preciso identificar as coisas de que gostamos e aliar o que nos dá prazer às nossas aptidões.
Não precisamos de retiros espirituais nem de life coaching, basta entender o conceito com naturalidade e renunciar à aprovação social.
Acordar todos os dias com uma simples meta sem necessidade de partilharmos cada passo nas redes sociais, sem necessidade de, antagonicamente, querermos ser um exemplo a seguir e precisarmos de constantes aplausos para a atingir. Se nos focarmos na nossa vida e nos bastarmos, se conseguirmos ver o encanto das coisas mais simples, se soubermos reduzir as necessidades, então aí, já dizia o Jorge Palma, iremos passar bem.
Por falar em passar bem, há algo que não precisa de aplausos e muito menos de apresentações: o Monte Fuji. Quem passa por Shizuoka vê-o a erguer-se como um íman.
A montanha mais alta do Japão impõe-se simétrica e serenamente, contendo em si um vulcão adormecido há mais de 300 anos. Os japoneses acreditam que pelo menos uma vez por ano devem ver o Fuji-San.
A mim deu-me horas de deslumbramento e paz. Vi-o todos os anos, percorri os seus 5 lagos e perdi-me no silêncio que o envolve. Subi-o até ao quinto estágio mas ficou a promessa de regressar e de o escalar até ao cume, nem que seja velhinha como Teiichi Igarashi San que, com 105 anos, entrou para o Record do Guiness como o homem mais velho do mundo a escalar o Monte Fuji, a 8 de agosto de 1988.
São inúmeras as suas reproduções fotográficas vestido de 4 estações e o império de marketing de que é senhor atrai-nos para forrarmos a casa e o estômago com tamanha variedade. Sim, o Monte Fuji é um Senhor.
Como forma de contentamento, perdi a conta às vezes que subimos o Fuji do “nosso” jardim, escorregando depois livremente por ele abaixo. Crescemos com ele.
De tempos a tempos passei também por Quioto, paragem obrigatória para quem quer mergulhar no Japão mais pitoresco (inevitavelmente mais turístico). Da floresta de bambu aos Templos Dourado e da Água, de Fushimi às ruas de Gion, estão garantidas horas de encanto e tradição.
Para terminar paro em Tóquio… e Tóquio vive tão longe da Terra!
Há três anos aceitei o desafio da Visão em partilhar as minhas aventuras no País do Sol Nascente e é neste recuo e avanço no tempo, neste doce balanço, que hoje me despeço. Como diz a minha filha “Eu quero o meu Japão!”. E o Japão será sempre teu, Ma-chan. Podes sair dele mas ele nunca sairá de ti!
Obrigada por embarcarem comigo nesta aventura. Talvez nos encontremos noutras paragens mas até lá, “qualquer que seja o futuro, continuarão a haver noites de luar, Serra de Sintra e o Tejo a correr para o mar.”
Banda sonora:
https://www.youtube.com/watch?v=SX_ViT4Ra7k&index=2&t=0s&list=PLuIz9ZXQZW64aADM-H7tkeEAp5XFpgPDm