O nosso Natal cheira a mar e buganvílias. Um cheiro doce que se torna ainda mais intenso durante a noite. Chega com a brisa mais fresca do final da época dos furacões e as brilhantes poinsétias vermelhas que transformam a ilha. Canções de natal tomam conta do rádio.
Os meus filhos ajudam a decorar a sala enquanto saem correndo para a piscina. Usam ramos de cerejeira e pimenta perfumada da Jamaica, em vez de azevinho. Habituados a desfrutar de um Natal branco em Lisboa ou Copenhaga, estranhamos o calor de Verão. Ainda assim, porquê manter a nostalgia das imagens de outros lugares? Porquê não recriar tradições de Natal que são autênticas de cada lugar onde vivemos?
Hoje, a maioria das ilhas das Caraíbas celebra o Natal, de forma semelhante, mas cada mantém os costumes e pratos favoritos. Em Barbados, junto com o peru e o presunto cravado de , a especialidade é o “jug-jug”, cozinhado com carne moída, milho-da-índia e ervilhas.
Por quase todas as casas, há frutas secas embebidas em potes de rum. A fruta é transformada num “Great Cake”, que lembra o pudim britânico. Mas com a imersão da fruta em rum, o uso de açúcar mascavo e um caramelo amargo, o bolo é mais escuro, mais profundo e mais intenso.
Perfeito, acompanhado com uma bebida rosada, que chamam de “sorrel” ou alazão, preparada a partir da infusão de canela, cravo, casca de laranja, açúcar mascavado, e com as vagens de alazão, da família do Hibisco.
Há diferentes maneiras de fazermos o nosso próprio Natal. Hoje ao jantar, mistura-se o tradicional bacalhau e peru assado, com salada de manga e abacate. Assim como o “Great Cake” acompanhado de gelado de Verão.
O jantar prolonga-se como um interlúdio silencioso entre as preparações febris e o início das festas do “Boxing Day” que se estendem ao final do ano. Numa ilha onde os alto-falantes em carros, casas e lojas são o pano de fundo para a vida diária, a noite de Natal é talvez o momento mais tranquilo deste ano.
O dia a seguir ao Natal, o “Boxing Day”, é como se a nossa casa e família, se tornassem uma espécie de força centrípeta que traz o máximo, que conseguimos, do mundo exterior para dentro de si. Os vizinhos e os colegas chegam e batem a porta sem convite. Os convites fazem-se para ir juntos ver a Banda Real de Barbados no Jardim da Rainha ou a final de Corrida de Cavalos em Garrison Savannah.
De Porto Rico a Guadalupe, de Barbados à Jamaica, cada ilha recria o seu próprio Natal.
Apesar das diferenças de como fazemos o nosso Natal, a essência é sempre a mesma. Há a ideia mágica de que, apesar de toda a riqueza que vem da diversidade, podemos todos fazer algo bom acontecer.
Dickens reinventou o Natal como “a única vez que conheço, no longo calendário do ano, quando mulheres e homens parecem, por um consentimento, abrir os seus corações fechados livremente e pensarmos uns nos outros como companheiros de viagem”. É como no Natal encontrássemos tempo para compreender o poder do nosso passado e futuro para mudar a forma como queremos viver o presente.
Aqui, aprendemos que o Natal é, na verdade, um tipo de alquimia, mas ao contrário. O espírito do Natal transforma o ouro puro, de volta, à essência da humanidade e da solidariedade. Enquanto erguemos um copo de “sorrel”, lançamos juntos um desafio – manter o Natal no coração – todo o ano de 2019.