Se dois casais portugueses se encontram nalgum sítio estranho em férias, a conversa é mais ou menos do género:
– Querida, acho que aqueles ali são Portugueses…
– A sério, espera aí… Desculpe, são Portugueses? O meu marido estava a…
– Sim! Também são?! Ai que giro! São de onde?
– Somos do Entroncamento!
– Do Entroncamento! Ai que giro, tenho lá um primo!
– O que faz ele?
– Tem um stand automóvel! O Marques!
– Ah então, conhecemos bem! Andou comigo na escola!
– Bolas, a sério! Bora tirar um selfie para lhe mandar!
– Boa, que giro!…
E por aí a fora, jantar, copos, abraços, promessas de amizade eterna, etc.
Quando dois casais alemães se encontram de férias no Badoca Safari Park, ali para os lados de Santiago do Cacém, é assim:
– Querida, acho que aqueles ali são Alemães…
– É pá, então fala mais baixo… e não olhes… pode ser que não tenham reparado…
Os Alemães, em particular, parecem aborrecer-se de ter de lidar com outros Alemães. São frequentemente indiferentes ou até arrogantes. Mesmo em situações em que estão atrapalhados não gostam de pedir ajuda aos outros. Cada um por si.
Por outro lado, tenho que dizer que a lingua Alemã prevê bem mais acções íntimas do que a Portuguesa. Um casal Alemão que queira sentar abraçadinho no sofá trocando um beijinho ou carícia enquanto vê televisão, tem o verbo apropriado para isso: Kuscheln (que vem do Francês “se coucher”). Os Ingleses diriam “to cuddle”, mas nós só temos o “aconchegar” ou “abraçar” que não chega para exprimir tudo o que Kuscheln permite… os ursinhos de peluche em Alemão, são os Kuscheltier – isto é animais de aconchego.
Em Português uma pessoa faz festas a outro quando acaricia repetidamente as costas, mas confesso que (apesar do popularisado slogan “Faz-me festas em Lisboa”) eu não seria capaz de dizer a ninguém faz-me festas… festas faz-se ao cão. Mas em Alemão há o verbo Streicheln. Que é suave e carinhoso, e os meus filhos pedem a toda a hora. Pode ser simplesmente passando os dedos pelos cabelos, pode ser nas costas para adormecer, ou na barriga quando doi. E quando querem que lhes massage as costas com a ponta dos dedos, então dizem Kraulen. E tudo isto são coisas diferentes que o Google apenas consegue traduzir para Português como acariciar, que não chega para reflectir as respectivas nuances.
E quando se quer ficar aninhadínhos um ao outro é Anschmiegen, mas se quiser ficar mesmo apertadinho num abraço é Knuddeln ou Knutschen (literalmente dar um nó). E quando se quer estar a dar beijinhos (sem ser estar à marmelada), mas mais do tipo de esfregar o nariz na bochecha, ou espalhar beijinhos pela cara, então é Schmusen, o que o Google traduz para Chamego (que é bom português, mas talvez não muito corrente, e não é um verbo ou acção, mas uma coisa, não se diz “chamega lá comigo”, o que limita a sua utilidade).
Daí se possa talvez concluir, de forma ligeira e graciosa, que nas relações sociais mais esporádicas a atitude entre nórdicos seja mais glaciar e distante, mas que na intimidade há um leque de opções calorosas bem composto e alargado, com o qual até mesmo os Portugueses, com a sua língua romântica, terão dificuldade em competir.