As primeiras vezes que voltei a Portugal, depois de estar a viver em São Paulo, era abordada, algumas (muitas) vezes, com um certo espanto: “Não estás nada morena!”. Não é que as pessoas ainda hoje não digam isso, mas já lá vão 7 anos e a maior parte das pessoas que me são próximas já sabe a resposta.
Sampa, como chamamos carinhosamente São Paulo, não tem praia (a mais próxima fica a cerca de 75 Km – assunto que abordarei noutra ocasião), e embora muita gente ache que no Brasil não se trabalha muito, em São Paulo trabalha-se das 8 da manhã até umas 8 da noite, quando não se trabalha mais. Além disso, apesar de ter muitos dias de sol, são tantos os prédios e tão altos, que pouco sol se apanha no dia-a-dia, quando se vai almoçar ou quando se vai a caminho do trabalho e de volta para casa. Como dizem é a verdadeira selva de pedra.
E sim, é verdade que os dias (mesmo) de frio aqui se contam pelos dedos das mãos e dos pés. Parece que antes só os dedos das mãos chegavam para contar os dias de frio, mas nos últimos anos, os dedos das mãos não chegam! E dou comigo a pensar que os dedos dos pés e das mãos, de uma só pessoa, talvez já não sejam suficientes. Ainda assim, temos o benefício de viver num país tropical, porque este chamado Inverno tem vários dias de um sol delicioso de 20 a 30 graus, ainda que logo a seguir possam vir uns dias de 12 graus ou menos.
Mas porque falar sobre frio num país tropical?
Ora, porque nesta altura do ano há um certo saudosismo do maravilhoso Verão em Portugal (ou até há poucos dias a falta dele) e, porque apesar de serem poucos os dias de frio, parece que aqui custam mais a passar… A construção dos edifícios não foi feita a pensar no frio. Na maior parte dos apartamentos ainda temos janelas de vidro simples, sem a calafetagem devida, ou umas janelas estranhas que têm vidro de um lado e persiana do outro (chamadas venezianas) e, obviamente, o frio passa através das frinchas não calafetadas e da janela só com persiana.
Quando vim para o São Paulo, venderam-me essa ideia (errada) de que não se usava collants, nem casacos de inverno, nem edredon e que apenas uns casacos de malha finos e uma roupas leves chegavam para se viver aqui. Até que, tive que mandar vir botas, casacos, collants… Enfim, achei que o frio era uma novidade por aqui, mas cheguei à conclusão que afinal sempre fez frio durante alguns dias, semanas e até mesmo meses. A diferença é que nunca se sabe se é um ano em que vai fazer dias, semanas ou meses de frio.
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Outra coisa que custa em São Paulo nos dias de frio é o banho com chuveiro elétrico. Desconhecia a existência de chuveiros elétricos até vir viver em São Paulo. E depois que conheci, confesso que não fiquei lá muito fã. Se escolhemos um banho com alguma pressão, a água sai meia fria; se escolhemos um banho de água quente, lá se vai a pressão. Mas dizem os entendidos que sai mais barato que um boiler (que é mesmo que um cilindro).
Outra coisa curiosa, é que muitos restaurantes, bares e lojas (seja de roupas, sapatos ou até supermercados) não têm portas ou antes têm um portão tipo de garagem, que se abre na abertura da loja e se fecha só à noite, deixando a “porta” sempre aberta para quem quiser entrar. Ainda assim, em qualquer altura do ano, todos nós gostamos e continuamos a ir a estes locais, porque afinal têm um bom chopinho, uma coxinha deliciosa, uma bela de uma capirinha ou até um caldinho de feijão, que aquece o coração e o estômago.
Sim, a verdade é que são poucos os dias de frio em Sampa, quando comparado com o nosso Portugal. Mas é verdade também que parece que o frio sabe melhor lá na nossa terra.
Visto de fora
Dias sem ir a Portugal: 52 dias
Nas noticias por aqui fala-se nas eleições para a Presidência da República de Outubro.
Um número surpreendente: mais de 50% dos eleitores brasileiros já estão cadastrados com biometria (há 4 anos eram 15%).
Sabia que por cá quem tem mais de 18 anos e menos de 70 é obrigado a votar nas eleições, sendo facultativo para quem tem entre 16 e 17 anos ou mais de 70 anos.