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Vasco Pinhol, 2018
Estive em Portugal. Portugal é tão bom. É quentinho e as pessoas são simpáticas. Não há como sublinhar suficientemente este último ponto – ser português é ter uma bonomia expressamente acima da média internacional. No meu primeiro dia em Lisboa fui almoçar com um amigo a uma tasca em Alcântara na qual nunca tinha entrado. Até nos sentarmos fomos brindados com vários “como-está” e apertos de mão, sorrisos e comentários benignos, por todos os empregados. Tão bom. Tão necessário. É como respirar – não se dá por isso até termos a cabeça debaixo de água.
De retornos a casa até às pequenas considerações sobre a vida, sobre o universo e sobre o tempo, vai apenas um mini-saltinho, que se dá também quase sem dar por isso. Em Portugal revi amigos – viver fora de Portugal é viver longe da sua vivência (e consequentemente aceitar que ficámos um bocadinho falecidos no seu quotidiano). Há um mundo de diferença entre sabê-los à distância de um telefonema e “’bora aí”, e um telefonema + 8 horas de viagem. Viver fora do país torna estas coisas simultaneamente mais relevantes e menos dramáticas – quem está fora, ou tem facilidade em criar novas amizades ou está lixado, ou aprende a rir das suas limitações ou é um triste; frequentemente estas duas coisas andam de mãos dadas. Ser estrangeiro é tornar-se automaticamente um autista divertido, fazer pouco de si mesmo é uma receita excelente para fazer novos amigos. Agora que estou para velho vejo todos os juízos de valor substituídos pela assumpção abrangente de que tudo são estratégias de sobrevivência emocional e, consequentemente, pessoais e intransmissíveis – e tudo o que é pessoal e intransmissível é sempre totalmente certo e totalmente errado, uma espécie de gato de Schrödinger da vida em sociedade.
Ter filhos em crescimento – na nossa situação específica, em que lhes são impostas duas culturas, duas línguas, duas vidas (dois grupos distintos de amigos, com as suas idiosincrasias próprias e uma apreensão precoce de que fazer juízos de valor é brincar com um animal que morde sem aviso) – força em nós a contabilidade do que importa. Nos tempos que correm, os loucos estúpidos têm mais tempo de antena que a gente decente e inteligente e por isso o valor da educação assume proporções cataclísmicas. Na internet – local onde todas as nossas crianças se encontram para brincar e onde todos vão beber informação sem atentar à sua qualidade – parece estar criado um problema ainda sem solução, porque todas as ideias têm expressão e não parece haver uma distinção clara entre a realidade racional e a ficção irrepetível e inenarrável.
Mas isto não é novo. Segue-se uma pequena prova da importância de uma educação fundamentada em verdades factuais e de como é um projecto em curso há muito, muito tempo: quando tinha uns 8 – 9 anos, idade em que se descobria com fascínio quase mórbido que havia pilinhas e pipis, a educação sexual era um bem inexistente. Um dia estalou no recreio uma controvérsia que rapidamente dividiu o colégio em dois. Vá-se lá saber porquê (estamos nos tempos em que tudo o que era sexualidade era tabú) gerou-se uma dúvida existencial sobre a geografia exacta da porta de entrada das pessoas para o mundo. Para uns era “pela frente”, para outros “por trás”. Formaram-se dois grupos que durante dois ou três dias se encontraram no recreio para argumentar os dois pontos de vista – as questões existenciais deste calibre eram normalmente resolvidas numa espécie de reunião informal, à revelia dos professores, a que chamávamos “andar à porrada”. No meu grupo éramos mais, maiores e ganhámos. Durante anos isto ficou assim, até privarmos com as inesperadas alegrias da puberdade.
VISTO DE FORA:
Dias sem ir a Portugal: duas semanas
Nas notícias por aqui:
https://www.vg.no/rampelys/tv/i/P3BBR0/kriger-om-unge-seere-med-festing-floerting-og-sex
Nos reality-shows na TV norueguesa, a sexualização dos media “on steroids”.
Um dado curioso:
A educação sexual na Noruega foi legalizada em 1939.