No último dia de campanha, decidi tomar café com o Pessoa, ali na brasileira e seguir as diferentes caravanas eleitorais que preparavam a última acção de campanha: a tradicional descida do Chiado. Primeiro o Partido Socialista (e movimentos cívicos com quem se coligou), depois a CDU, e finalmente o CDS. Transito político intenso que sucessivamente pintou nas ruas da baixa camadas sucessivas de rosa, e azul, e vermelho. Tudo na maior tranquilidade possível. Fantasiei depois um mesmo evento em Budapest, e na quantidade de policia que necessitaria uma sucessão consecutivas de arruadas encabeçadas pelo Fidesz, depois pelo Mszp, e seguidos finalmente pelo Jobbik. A ninguém passaria tal pela cabeça. Em Portugal proporcionou-se um dia diferente aos milhares que nos visitam.
Com isto quero dizer que se sente no nosso país não somente os 30 graus destes dias, a praia e o cheiro a grelhados, os tuk-tuks, a recuperação económica ou a geringonça. Sente-se a tolerância da democracia, o convívio plural, a confiança no voto depositado em urna. E, mesmo que durante a campanha se zanguem algumas comadres, vemos um pouco por todo o país – como regra – não só a aceitação dos resultados, como um ambiente de diálogo construtivo. Esta atitude é bem visível em muitas Câmaras, e especialmente em milhares de freguesias, pois a norma é a de não se produzirem maiorias absolutas, obrigando-se os partidos com representações nas diferentes assembleias a construírem acordos de governação. E são centenas, senão milhares, os que se envolvem nestes processos, gerando oportunidades de trabalho político entre os nossos principais partidos, e a dezenas de coligações entre PS, PSD, CDS, CDU, BE e candidaturas de movimentos de cidadãos independentes (cada vez mais frequentes,). Talvez não pensemos muito nisto, habituados que estamos a seguir somente ‘breaking news’ e em apontar criticas a tudo o que não funciona, ou pode funcionar melhor. E a proposta que hoje vos deixo, especialmente a quem vive em ambientes politicamente intensos (para não dizer outra coisa) é para pensarem um pouco numa das principais conquistas no nosso Abril, o poder local, e a festa da democracia que cada quatro anos vivemos. Para que Portugal não seja somente praia e pastéis.