
O Luxemburgo é provavelmente, a par com Macau, o país com mais meios de comunicação social portugueses por emigrante. O pequeno Grão-Ducado está também entre os países mais inovadores em termos técnicos e, possivelmente, no que respeita à qualidade do jornalismo que se pratica nas comunidades.
Estas comparações só são possíveis porque, em tempos, alguns membros do governo mais interessados pelas questões relativas ao jornalismo na diáspora organizaram encontros entre os meios de comunicação.
No outono de 2012 teve lugar um fórum no qual algumas dezenas de “media” portugueses de todo o mundo trocaram experiências. Entre outras coisas, pediram ajuda ao Estado português para receberem mais e melhor informação da Lusa e, em troca, tentaram colocar os seus conteúdos ao dispor da agência tendo recebido a resposta de que “é complicado”. As mesmas mensagens foram trocadas um ano depois na cidade do Porto sem sucesso digno de registo.
Em 2015 foi dado um passo importante na forma como comunicam e se organizam os órgãos de imprensa da diáspora através da criação de uma estrutura – que teve apoio do governo – intitulada Plataforma (na fotografia alguns dos fundadores).
O objetivo foi então definido pela direção da nova associação: “conhecer-nos, partilhar conteúdos, gerar resultados comerciais e defender interesses junto das autoridade portuguesas”. Infelizmente, dois anos e meio depois, a Plataforma não conseguiu tirar do papel estas manifestações de intenção. Enquanto membro fundador e da direção penitencio-me pela inação desta boa ideia que se debate com as dificuldades habituais: falta de dinheiro, de tempo e imensa distância geográfica entre os principais atores da Plataforma.
Mais uma vez, a Plataforma teve entre os seus impulsionadores meios de comunicação do Luxemburgo. Entre eles, a Decisão, uma revista de negócios que é um caso ímpar nas comunidades portuguesas, e o BOM DIA, o primeiro jornal em linha da diáspora, fundado em 2001.
Desde 2015 que os jornalistas portugueses da diáspora não mereceram grande atenção do governo de Lisboa, excetuando uma recente evolução no serviço de notícias da agência Lusa que criou um “feed” de notícias para jornais em linha, formalizando apenas uma situação de facto.
O maior reconhecimento do trabalho dos homens e mulheres que fazem informação de e para os emigrantes portugueses talvez tenha chegado através da RTP. A criação de emissões sobre os portugueses cá de fora é feita, em muitos casos, com a contribuição de jornalistas da diáspora que, apesar de não serem bem pagos, apreciam o reconhecimento por verem o seu trabalho na RTP Internacional.
A segunda vertente interessante do trabalho feito pela estação estatal é a emissão “Palavra aos Diretores”. Este programa oferece aos jornalistas da emigração uma plateia para falarem dos seus projetos e do trabalho que fazem. Infelizmente, os programas sobre a emigração são considerados pelos responsáveis da RTP como um conteúdo interessante para os próprios emigrantes mas não para o público residente em Portugal, ou seja, são transmitidos exclusivamente na RTP Internacional.
E o Luxemburgo nisto tudo? Mais uma vez o pequeno país, plantado no meio da Europa, é um caso de estudo no que respeita à evolução dos meios de comunicação da diáspora. Primeiro pela óbvia qualidade que já referi no início, mas também porque aqui se colocam claramente questões sobre a definição de “media” da emigração. Será jornal português aquele que escreve apenas na língua de Camões ou pode ser bilingue, ou mesmo adotar completamente a língua do país de acolhimento? Será rádio portuguesa aquela que é propriedade de portugueses emigrados ou continua a sê-lo se pertencer a “nativos” desde que continue a falar português? Será o conteúdo que define a “nacionalidade” do meio de comunicação? Ou seja, se um “media” tratar a informação das comunidades portugueses em inglês será um jornal da diáspora?
Estes debates animaram alguns dos encontros de jornalistas da emigração, embora na maior parte das vezes tivesse como objetivo eliminar concorrentes ou justificar ou não convites para os referidos encontros. Tal como não aceito debates sobre quem é genuinamente português ou mais ou menos francês ou luxemburguês, também nunca me preocupou saber se um jornal da emigração é mais ou menos digno de assim ser apelidado. Contudo, parece-me claro que o que define um órgão de informação da diáspora portuguesa é: 1) a proximidade das comunidades portuguesas – parece-me difícil fazer jornais para os emigrantes sentado numa redação em Portugal; 2) fornecer conteúdos relativos às comunidades e outros que sejam do seu interesse; 3) servir de plataforma a articulistas das comunidades e 4) escrever e falar português.
Esta última exigência é debatida por muitos dos jornalistas da diáspora sobretudo em países em que a língua local é de origem latina – na Venezuela a opção pelo espanhol tem sido quase unânime – ou onde a pressão política e social da língua nacional como veículo essencial da integração é enorme, como é o caso de França.
Aos que argumentam que com a língua do país de acolhimento se chega mais facilmente às segunda e terceira gerações respondo que é pena que esses luso-descendentes deixem de compreender português e que bons “media” na língua dos seus antepassados serão uma motivação para manterem o contacto com ela. Outro pretexto, a falta de profissionais qualificados para produzirem conteúdos em português é cada vez mais uma falácia por causa da emigração de diplomados dos últimos anos e porque é fácil recrutar jornalistas residentes em Portugal para exercerem na diáspora.
Parece-me óbvio que os jornais, rádios e outros meios de comunicação das comunidades portuguesas (e aqui incluo blogues e páginas relevantes nas redes sociais) devem escrever e falar a língua de Camões e, também por essa razão, deveriam ser apoiados pelo Estado português.