No meu ultimo artigo escrevi um par de linhas sobre a forma como o Verão se apresenta por Budapeste. Como a cidade de enche de eventos e de calor humano, e se abre para receber visitas. Falei de um conjunto de festivais, como o Sziget, de mega-eventos como o Red Bul Air Race, ou do grande feriado local, o dia de São Estevão. Em tal ponto me armei em promotor turístico que vários foram os amigos que me apontaram a falha – grave – de não ter referido a passagem do circo da Fórmula 1 Hungaroring agora nos finais de Julho. Eventos normais, não fosse Budapeste uma das cidades mais procuradas por turistas, com taxas de crescimento neste sector na ordem dos 30 %/ano, e não fossem os meses de Verão os mais intensos nesta área. Como em tantos casos por essa Europa (e mundo) fora, a maioria destes eventos enquadram-se numa estratégia de divulgação da cidade, com propósitos de atrair mais e mais turistas, e gerar mais e mais receitas. Como em tantos casos, a maioria destes eventos tem organização apoiada por instituições, locais ou nacionais, em articulação com entidades privadas. Nada de novo, nem nada a que não se assista em outros países e/ou cidades. Basta seguir o mar de concertos, festivais, campeonatos, almoçaradas, programas de TV que enchem o nosso país nos meses quentes de Verão. Como em Portugal, debate-se a pertinência, relevância e retorno de tais investimentos (ver Expo ’98 ou Euro 2004), especialmente quando envolvem avultadas somas de dinheiros públicos. E em cenário de pré-campanha eleitoral (marcada para inícios de 2018) parte do debate antes de um Outono que se adivinha bem quente (politicamente) tem sido em torno dos “mini-Olímpicos” escondidos num Mundial de Natação.
Orçamentados inicialmente em cerca de 80 milhões de euros, a corrente derrapagem para os 500 milhões dos Mundiais de Natação (segundo diversas fontes) tem levantado um coro de críticas em relação à excessiva atenção do governo num evento de somenos importância, quando o desinvestimento em áreas com a saúde ou educação é notório, já para não falar da baixíssima massa salarial usufruída por alguns sectores do Estado (com destaque para os médicos e professores). Bem sei que 500 milhões de euros não são a estravagância de Sochi (50 mil milhões de dólares para organizar os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014) ou Beijing (40 mil milhões para os Olímpicos de verão em 2008), mas andam bem próximos dos gastos do Rio 2016, se consideramos que no Brasil se organizaram uns jogos completos (4.6 mil milhões). Claro que este não é um problema exclusivamente húngaro, antes pelo contrário. São bastos os exemplos de uso e abuso de dinheiros públicos para proveitos políticos, para distribuição pelos próximos do governo, para proporcionar pão e circo ao povo. O que mais impressiona neste caso – aparte do abuso da derrapagem – é a prevista falta de lastro que será deixado na cidade, pois muitas das piscinas agora construídas irão ser demolidas depois dos jogos, e a sensação de estarmos perante uma vingança da parte do governo em relação aos que no inverno passado impediram que Budapeste se candidatasse aos Jogos Olímpicos (esses completos) de 2024, como que dizendo “ah não nos deixaram fazer os jogos daqui a uns anos, então tomem lá esta versão mini, para verem o que podíamos ter feito”. Só na cerimónia de abertura – 2 horas de show televisivo que olimpicamente percorreu episódios da história milenar húngara com o castelo, o Danúbio e as suas pontes como cenário -, diz-se ter custado por minuto cerca de 20 milhões de Forints (65 mil euros). Resta saber se o investimento terá mais retorno que apenas os bolsos de alguns selecionados. Não deixo de me recordar da Expo ’98, nem dos seus abusos, mas lembro que deixámos uma ponte, uma nova cidade e um exemplo para quem queira aproveitar eventos de grande magnitude para reconverter partes de uma cidade, como já o tinha feito, por exemplo, Barcelona, aquando dos jogos de ‘92. E pelo entusiasmo que por aqui se apoiam os atletas da casa, em especial os da natação e do polo aquático, bem merecia Budapeste, e a Hungria, que estes mundiais deixassem mais que côdeas para o povo, pois omiolo – como em todo o lado – já parece ter dono destinado.