Antes de começar a ler esta historia, quero que pense no significado da palavra extinção:
“Extinção em biologia e ecologia é o total desaparecimento de espécies, subespécies ou grupos de espécies. O momento da extinção é geralmente considerado como sendo a morte do último indivíduo da espécie”, Fonte wikipedia
Agora imagine África sem leões…
Seria triste, verdade?
Atualmente os leões estão classificados como espécie “vulnerável” na lista da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN)
Historicamente, em África, os leões viviam e caçavam em quase todo o continente, à exceção das zonas desérticas do norte de África e da floresta do Congo-Zaire.
Sabia que, ao ritmo a que a espécie está a desaparecer, com uma redução populacional de cerca de 50% em duas décadas, provavelmente dentro de vinte ou trinta anos já só haverá leões em três ou quatro países de África?
Na década de 1950 viviam no continente africano cerca de 200 mil leões. Em 1995, cerca de 40 mil. O último censo de 2015 revela dados alarmantes: atualmente já só há 20 mil leões neste continente!
Como não podia deixar de ser, o Uganda não é uma exceção.
A minha história de hoje começa em 2008 no bar do Lake Albert Safari Lodge. Depois de um bom jantar e uns quantos Gin&Tonics, o meu bom amigo Bruce Martin apresentou-me o Dr Ludvig Siefert.
Ludvig é um veterinário alemão especializado em animais selvagens. É o director da equipa do Uganda Carnivore Program e trabalha no Parque Nacional Queen Elizabeth II desde 1990. Durante trinta anos, tem assistido ao declínio das espécies emblemáticas deste país. Pessoalmente, desde que tenho estado no país, os leões foram desaparecendo pouco a pouco. Hoje em dia, é frequente acabar um safari no aeroporto de Entebbe e não ter chegado a avistar dez animais…
E, como sempre, a principal ameaça para os leões e outras espécies somos nós.
O crescimento populacional e o aumento das necessidades alimentares dos ugandeses provocam inevitavelmente uma redução das áreas protegidas. Desde 2006, quando pela primeira visitei o Parque Nacional Queen Elizabeth II, a situação dos predadores tem vindo a piorar.
Este parque, o segundo maior do Uganda, com uma área de dois mil quilómetros quadrados, tem mais de 180 quilómetros de fronteira com a República Democrática do Congo. Dentro do parque vivem cerca de duas mil pessoas em 11 aldeias de pastores e pescadores. É portanto natural que os conflitos entre humanos e animais selvagens sejam inevitáveis. Diariamente milhares de cabeças de gado pastam ilegalmente dentro do parque.
Para um leão é extremamente fácil caçar uma vaca. Quando isto sucede os pastores vingam-se envenenando outra vaca que os leões acabam por comer provocando quase sempre a morte de toda a família de leões, abutres, hienas e chacais.
Em 2009 a situação era crítica. No norte do parque já só havia um leão adulto em idade de reprodução e todos os leões eram filhos dele.
Até que algo extraordinário sucedeu. Três machos enormes invadiram o parque provenientes do Congo, percorrendo um percurso de mais de 120 quilómetros, atravessaram rios repletos de crocodilos e hipopótamos, evitaram aldeias e regimentos do exército ugandês e conquistaram todo o setor norte do parque, trazendo assim diversidade genética e também novas técnicas de caça.
Este machos foram rapidamente identificados e monitorizados pelo Dr Ludvig. Hoje em dia os três têm coleiras localizadoras com sinal de rádio VHF. O principal objetivo da monitorização de todos os predadores é a localização dos animais para evitar conflitos com o gado e sobretudo com os pastores.
Graças à nossa amizade, o Ludvig é presença habitual nos meus safaris. Tive inclusivamente o privilégio de ajudar a mudar uma coleira localizadora de Mónica uma das leoas alpha do setor norte.
Foi um dia espetacular. Mónica, e os outros nove leões da manada estavam em cima de uma árvore a fazer a digestão de um búfalo que tinham acabado de caçar.
Depois de um tiro certeiro com um dardo sedativo a leoa desceu da árvore e adormeceu ali ao lado do tronco… Mas o resto da manada não quis descer. E isto tornava a situação mais complicada para mudar a coleira da Mónica…
Surpreendentemente o Ludvig pediu-me que eu e os clientes do safari atirássemos as garrafas de cerveja (vazias claro!) aos outros leões para que descessem da árvore. E assim foi, armados de garrafas de cerveja Nile e alguma coca-cola espantámos 8 leões que apesar do susto não se afastaram muito da matriarca…
Depois de espantar os leões começámos a retirar a coleira antiga, fizemos recolha de de sangue, auscultámos a leoa, medimos as pulsações, removemos carraças, e por fim trocamos a coleira cuja bateria tinha começado a falhar.
Mas deu tempo para poder tocar e sentir de perto uma leoa. Quando agarramos o antebraço de um animal tão poderoso podemos sentir a sua força e a potência das suas garras. O tamanho das patas de uma leoa adulta é impressionante, as suas garras e os seus dentes são muito maiores do que podemos imaginar.
Foi um momento inesquecível e apesar de termos uma preocupação constante devido à presença dos outros leões, ainda tive tempo de recolher as onze garrafas de cerveja vazias e uma de coca cola…
Se quiser colaborar com Uganda Carnivore Project visite aqui a pagina oficial. Para visitar o Uganda, recomendo as agências de safaris: www.mogambo.ug e http://www.pasaporte3.com/kananga.php. Ambas colaboram com o Uganda Carnivore Program.
VISTO DE FORA
Dias sem ir a Portugal: Mais de duzentos. Vou a Portugal esta semana
Sabia que por aqui: Foi rodado o filme “Queen of Katwe” uma grande produção da Disney, a estrear em breve
Um número surpreendente: 100 vezes por dia podem copular os leões durante a época do cio
Nas noticias por aqui: A Selecçao Nacional de Futebol do Uganda perde por 1-0 num jogo amigável contra o Togo