Quando vi as portas automáticas a abrirem para sair das chegadas internacionais do aeroporto de Calcutá, senti de imediato o bafo quente e sufocante que caracteriza os meses de Verão na Índia. Era o dia 14 de maio de 2014 e cheguei ao país onde agora vivo, o país que, sem eu saber, me iria mudar a vida.
Conhecido pelos seus cheiros, cores e sabores, a Índia é sem dúvida um país onde reinam os contrastes e onde os momentos vividos ficam para sempre marcados, por serem diferentes dos que se experimentam em qualquer outra parte do mundo. Não é um país para todos, vim a descobrir depois, mas sem dúvida que tem para oferecer o que nāo se pode encontrar em mais lado nenhum.
Lembro-me que eram seis da tarde e estavam 40 graus. Esperei durante uma hora pelo responsável que me iria receber, algo que vim depois a perceber ser normal em território indiano. Essa é, sem dúvida, uma das influências britânicas que não ficou registada: a pontualidade, a qual se chama “indian time”, na maioria das vezes pelos próprios nativos.
Nessa tarde, atravessei a cidade de Calcutá de uma ponta à outra, ainda sem saber e sem conhecer as estradas e os caminhos que via da janela do táxi amarelo, igual a milhares de outros que circulavam nas ruas. Lembro-me de comparar o centro da cidade com uma das atrações de piratas da Disneyland, com árvores enormes que cresciam em passeios estreitos e ruas escuras, cheias de detalhes e pormenores que os meus olhos nao conseguiam absorver tao rapidamente quanto passavam. Tantas cores e cheiros diferentes que mudavam numa questão de segundos e que me faziam pensar que estava num qualquer sítio diferente e irreal, que não ali.
Apaixonei-me de imediato pela cidade, naquela primeira viagem de táxi amarelo, que veio a ser a viagem de táxi mais cara de todo o meu percurso na Índia até agora. 500 rupias (cerca de 7 euros)! Hoje em dia, que já conheço os preços e os caminhos mais rápidos, não há lugar algum para onde pague 500 rupias.
Na altura, não me poderia ter apercebido que este seria o país onde iria morar nos próximos dois anos da minha vida. Os desafios da primeira semana foram os mais difíceis. Mas a vida foi mudando, comecei a conhecer a cidade, e de repente, Calcutá já não me parecia mais um sítio vindo de um universo diferente.
Depois de saber onde ir, o que fazer, quem encontrar, onde comer, a realidade acaba por mudar, mesmo no meio de 5 milhões de habitantes. E percebi o que poderia aproveitar de um país tão rico em termos culturais.
Nestes dois anos, foram muitas as experiências que me fizeram continuar a apaixonar pela Índia e que me fazem sentir falta do caos e da confusão, quando estou de férias ou a trabalhar em Portugal. É um ambiente interessante e cativante, que me faz sentir curiosa para saber o que me vai acontecer sempre que saio de casa de manhã….