Covid-19. O nome é sinónimo de medidas de contingência, quarentenas e pânico. À medida que o novo coronavírus se alastra pelo mundo, é cada vez mais provável que seja declarada uma pandemia global. A chegada em força à Europa, com Itália a registar o maior surto fora da Ásia, fez aumentar os receios. Mas, além dos médicos, há uma classe de profissionais que está a ficar cada vez mais inquieta: a dos economistas. As preocupações são fundadas – e se uma Europa já constipada for atacada por este vírus?
O problema é que a conjuntura económica europeia está, chamemos-lhe assim, periclitante. As estatísticas oficiais mostram que a União Europeia registou uma estagnação económica nos últimos três meses de 2019 – tanto os 28 como os 19 países da Zona Euro tiveram um crescimento de 0,1 por centro. A “desajudar” à festa, estiveram uma série de fatores: um Brexit ainda com termos indefinidos, as greves em França, uma Itália com uma situação política incerta e as guerras comerciais com a China e os Estados Unidos da América. Com tudo isto, o motor europeu está a desacelerar a olhos vistos: a taxa de crescimento da economia alemã está em mínimos desde 2013 – cresceu apenas 0,6% em 2019, recuando dos 1,5% e 2,5% registados, respetivamente, em 2018 e 2017.
O que todos temem é que o coronavírus seja o golpe fatal que empurre a Europa para uma recessão, tecnicamente definida como dois trimestres consecutivos de crescimento económico negativo. Quanto mais a situação na China se arrastar, e mais se fizerem sentir os efeitos negativos sobre as economias daquela região, mais complicado será aqui no velho continente. Isto porque a China, além de gigante exportador, é também um enorme consumidor mundial. Para a Alemanha, é o quinto maior parceiro comercial, sendo crítico por exemplo no setor automóvel. É o mercado mais importante para a maioria dos fabricantes.
É fácil perceber que se a Alemanha – a segunda maior economia exportadora e a terceira maior importadora do mundo – começa a abrandar, o resto da Europa irá garantidamente atrás. Para complicar as coisas, do lado de lá do Atlântico o cenário não é muito mais animador. A economia norte-americana também abrandou, com o crescimento nos mínimos desde 2016 (mas, apesar de tudo, avançou 2,1% no último trimestre, embora longe das promessas de 3% e 4% de Donald Trump). Sendo os Estados Unidos da América o maior parceiro económico da Europa, dali não podemos esperar alento significativo.
Uma das áreas em que o efeito do Covid-19 se faz mais sentir é, obviamente, no turismo. Com medo de serem contaminadas, as pessoas viajam menos, ou escolhem destinos entendidos como mais seguros, normalmente mais próximos de casa. É por isso que muitos economistas acreditam que este surto terá no setor – que contribuiu com mais de oito biliões de euros para a economia mundial – o maior impacto desde a crise financeira de 2008. Só as companhias aéreas podem perder 27 mil milhões de dólares em receitas este ano.
Desde os anos 70 que os teóricos do caos estudam o que metaforicamente explicaram como o bater de asas de uma borboleta que pode causar um tufão do lado de lá do globo. Oxalá que não, mas este pode bem vir a ser um bom caso de estudo do efeito borboleta no século XXI: como o que começou como uma gripe numa remota província chinesa se transforma num problema global com impactos económicos à escala planetária. Isto está mesmo tudo ligado, e tal como nos casamentos, é para o bem e para o mal…