Alguma vez se perguntou de que se alimentam os cogumelos? Possivelmente, saberá a resposta a esta pergunta, mas na sua maioria, os cogumelos, que são um tipo de fungo, alimentam-se de restos de plantas e animais mortos que estão presentes no solo ou funcionam como parasitas, vivendo à custa de outros organismos. Há, no entanto, exceções e hoje falo de uma delas: cogumelos carnívoros.
Quando ouvimos a palavra carnívoro, podemos pensar automaticamente num predador que ataca a sua presa. Talvez pudéssemos até pensar nestes cogumelos como os equivalentes das plantas carnívoras, mas no reino dos fungos. Informo, pois, que não. A palavra carnívoro refere-se apenas a um tipo de alimentação que tem por base animais vivos ou mortos. Para além disso, a forma como os cogumelos capturam as suas presas é completamente diferente de qualquer um dos exemplos anteriores. Em primeiro lugar, eles alimentam-se apenas de nemátodos. Estes nemátodos são vermes com menos de 2.5 mm de tamanho, que vivem no solo. A maioria dos fungos carnívoros liberta substâncias que mimetizam o alimento dos nemátodos, para os atrair para si. Uma vez atraídos, os nemátodos vêm-se envolvidos nas suas hifas, que são o equivalente nos fungos às raízes das plantas, e acabam a servir de alimento ao cogumelo carnívoro que os atraiu.
Há, no entanto, um cogumelo carnívoro que tem uma estratégia ainda mais complexa e foi sobre esse fungo em específico que foi publicado um estudo muito recentemente. Falo do cogumelo-ostra, de seu nome científico Pleurotus ostreatus.
Ao contrário dos restantes fungos carnívoros, que aprisionam o seu alimento prendendo-o nas hifas, o cogumelo-ostra tem nas suas hifas uma espécie de bolsas microscópicas chamadas toxocistos. Ao tocar nestes toxocistos, os nemátodos rompem-nos e eles libertam uma espécie de veneno que rapidamente paralisa e, de seguida, mata o verme.
Os toxocistos já tinham sido identificados antes. A novidade é a descoberta da substância neles contida, chamada 3-octanona, que nunca tinha sido identificada num cogumelo antes. Para mais, o nemátodo é um tipo de parasita e há nemátodos que funcionam como parasitas do nosso intestino, podendo causar doenças ao ser humano. Não se sabe se esta nova substância terá alguma utilidade direta para nós no futuro, mas não seria a primeira vez que se descobria uma substância na natureza que anos mais tarde começou a ser utilizada como antibacteriano ou antiparasitário.
Olhando para a especificidade da descoberta, é inevitável que investigadores se questionem sobre o que terá levado o cogumelo-ostra a evoluir de forma diferente das restantes espécies. Não há uma resposta para essa pergunta, apenas especulação. É sabido que substâncias semelhantes, mas completamente inofensivas, são utilizadas pelos fungos como forma de comunicação entre si. É possível que uma mutação genética tenha levado à produção desta substância em vez das outras mais comuns e que ela se tenha revelado vantajosa para a espécie. Sabe-se também que estes cogumelos vivem geralmente em troncos de árvores mortas ou em decomposição. Neste ambiente, é difícil para a espécie arranjar os nutrientes que necessita para a sua sobrevivência. Essa dificuldade pode também tê-los forçado a evoluir para uma melhor e mais eficiente capacidade predatória. Há ainda a hipótese dos toxocistos servirem também de mecanismo de defesa contra os nemátodos, uma vez que alguns destes vermes se alimentam das hifas dos fungos.
Tudo são hipóteses válidas, mas hoje conhecemos um pouco mais sobre este cogumelo carnívoro, a forma como se alimenta e a substância que usa para envenenar as suas presas.
Baseado em: https://www.science.org/doi/10.1126/sciadv.ade4809
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