As bactérias também têm os seus próprios vírus. Estes têm um nome próprio: bacteriófagos ou, simplesmente, fagos. Não são qualquer ameaça para nós, seres humanos, e podem até ser-nos muito úteis. Mas isso é ciência para outra altura. O que importa saber para hoje é que quando infetam uma bactéria, dois fenómenos podem ocorrer. No primeiro, os fagos multiplicam-se dentro do seu hospedeiro e provocam a morte da bactéria, com consequente libertação dos novos vírus no meio ambiente; a este chamaremos de estado ativo. No segundo, os fagos inserem-se no material genético bacteriano e ficam adormecidos até que surja a oportunidade para a sua ativação; a este chamaremos estado dormente. A questão que pode surgir agora é: o que determina que os fagos optem por um estado ativo ou um estado dormente aquando da infeção?
A resposta para esta escolha tem vindo a ser estudada e depende essencialmente do estado da bactéria. Quanto mais debilitado o hospedeiro, maior a probabilidade de os fagos optarem por um estado ativo e o matarem. Se tal não se verificar, os fagos podem entrar em estado dormente e esperar por um momento em que a bactéria esteja mais frágil para serem ativados. É tudo uma questão de oportunidade. E de comunicação. Ou assim foi descoberto.
É que apesar de seres muito simples, os fagos comunicam entre si. Há mais um fator que influencia esta alternância entre estado dormente e estado ativo. Há uma substância que é libertada pelos fagos e que quando presente no meio ambiente, os impede de entrar em estado ativo e favorece o estado dormente. O seu nome é arbitrium. Ora, o arbitrium é libertado após um fago infetar uma bactéria. Se houver uma grande quantidade de arbitrium no meio, isso significa que uma grande quantidade de bactérias estão infetadas e que os fagos estão a ficar sem bactérias saudáveis para infetar.
Algo que é importante saber sobre vírus é que eles só sobrevivem se tiverem um hospedeiro que possam infetar e, portanto, de nada serve aos fagos continuarem a multiplicar-se se não existirem hospedeiros saudáveis à sua volta. Nesse caso, o que estes vírus fazem é entrar em modo dormente e aguardar que os níveis de arbitrium diminuam. Mesmo em modo dormente, eles produzem esta substância, como forma de avisar os restantes fagos que aquela bactéria já está infetada.
O que torna tudo isto tão curioso é que os fagos são seres mesmo muito simples que não se assemelham em nada a uma célula complexa, e mesmo nessa simplicidade, possuem mecanismos que lhes permitem comunicar, coordenar o ataque aos seus hospedeiros e, assim, sobreviver.
Baseado em: https://www.nature.com/articles/s41564-021-01008-5
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