Assim proclamada pelo novo Presidente dos EUA, a nova Era Dourada em muito choca o observador atento. Mais que a negação do mais simples e básico humanismo, o rol de ordens executivas assinadas por Trump no seu primeiro dia demonstram um radical corte com o que criou esse grande país: a liberdade que tanto atraiu gente como os avós do bilionário, agora trasvestido em Presidente ultra protecionista e paladino da luta contra a imigração, ou a sua eslovena esposa.
Os tempos que vivemos, com fluxos migratórios muitíssimo grandes, pede respostas e políticas que não fechem os olhos perante o problema. Ele existe e a prova de que tem de ser enfrentado é o facto de a questão se ter transformado quase exclusivamente em material da extrema-direita.
Contudo, a brutalidade e a insensibilidade na abordagem ao problema por parte de Trump e dos seus sequazes, implica que nos choquemos e procuremos forças e alimento naquilo que nos pode recentrar na busca de soluções que estejam do lado certo da História.
Emma Lazarus, em finais do século XIX, numa época em que os EUA se debatiam também com imensas levas de refugiados e de migrantes, escrevia um texto que algum tempo depois foi escolhido para estar inscrito na base da Estátua da Liberdade.
Diz Emma Lazarus, uma judia descendente de cristãos-novos da Beira Alta portuguesa:
Não como o gigante bronzeado de grega fama,
Com pernas abertas e conquistadoras a abarcar a terra
Aqui nos nossos portões banhados pelo mar e dourados pelo sol, se erguerá
Uma mulher poderosa, com uma tocha cuja chama
É o relâmpago aprisionado e seu nome
Mãe dos Exílios. Do farol de sua mão
Brilha um acolhedor abraço universal; Os seus suaves olhos
Comandam o porto unido por pontes que enquadram cidades gémeas.
“Mantenham antigas terras sua pompa histórica!” grita ela
Com lábios silenciosos “Dai-me os seus fatigados, os seus pobres,
As suas massas encurraladas ansiosas por respirar liberdade
O miserável refugo das suas costas apinhadas.
Mandai-me os sem abrigo, os arremessados pelas tempestades,
Pois eu ergo o meu farol junto ao portal dourado.”
Entre resignação, a incapacidade de olhar mais longe, e os medos de cada momento, sabe bem olhar para o alcance destas palavras, materializadas numa estátua que representa, ela mesma, um coletivo que viu na imensidão das desgraças de cada um a oportunidade para que todos avançassem e se libertassem.
Mesmo quando a Liberdade nos obriga a pensar a liberdade de cada um, somos obrigados ao confronto com o que de atual este poema tem…
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