Neste momento, PSD e CDS não fazem ideia nenhuma de quem os vai dirigir nos próximos tempos. Ou seja, estão exactamente na mesma situação em que se encontra Portugal. O que significa que nem tudo é mau. Essa identificação total com o País que pretendem governar pode ser um trunfo importante nas eleições. Compreendem perfeitamente a balbúrdia em que Portugal está mergulhado porque a conhecem por dentro. Mas há um pequeno problema: quem dirige o PSD e o CDS defende uma solução para a balbúrdia externa e outra para a balbúrdia interna. A balbúrdia externa resolve-se antecipando o mais possível as eleições; a balbúrdia interna resolve-se adiando o mais possível as eleições. São, por isso, balbúrdias de natureza muito diferente. Para um leigo, como eu, é o mesmo tipo de balbúrdia, mas os entendidos distinguem bem as subtilezas de cada balbúrdia. No entanto, os candidatos à presidência de ambos os partidos também não percebem a diferença entre o sabor da balbúrdia nacional e o da balbúrdia partidária. Nesse sentido, parecem-me mais perspicazes, por mais que o seu paladar não seja tão sofisticado. Por outro lado, alguns dirigentes históricos do CDS têm abandonado o partido dizendo que o partido acabou, o que já me parece menos perspicaz. Isto de abandonar o CDS em 2021 declarando que o partido morreu é o equivalente a dar por terminada uma festa quando os empregados da discoteca já estão a pôr as cadeiras de pernas para o ar em cima das mesas. São médicos-legistas que anunciam desconfiar fortemente do óbito do paciente durante a missa do sétimo dia.
Seja como for, estas são as hipóteses possíveis: ou há eleições clarificadoras ao nível nacional, antes de se clarificar a situação interna dos partidos, ou se clarifica primeiro a liderança do PSD e do CDS e se avança depois para a clarificação nacional. De um lado, argumenta-se que o País não pode esperar e, portanto, as eleições nacionais têm de se realizar o quanto antes; do outro, diz-se que as eleições não serão inteiramente justas se os partidos não tiverem a sua situação interna definida. Por isso, os primeiros propõem uma data para as legislativas e os segundos propõem outra. Ao que parece, essas datas distam entre si duas ou três semanas. Pessoalmente, fico contentíssimo que, de repente, três semanas sejam uma eternidade, em Portugal. Espero que esta nova perspectiva sobre o tempo já esteja em vigor quando precisar de resolver burocracias autárquicas ou marcar uma operação.