Como alguns gurus não se cansam de dizer e outros tantos aplaudem, as crises são “um horizonte de oportunidades”.
Deve ter sido a pensar nisso que a ANJE se lembrou de ensinar aos seus jovens empresários um curso de magia.
Ao que parece, a associação contratou mesmo um ilusionista profissional, de seu nome Jomaguy, para ajudar os rapazes “nos negócios”. O workshop, de resto, tem um nome curioso e actual: “Empresas e Pessoas Mágicas – O Ensaio e a Performance, a Evidência e o Oculto na Gestão”. A formação inclui aprendizagem sobre “inovadores métodos pedagógicos” que, esclarece a ANJE, possibilitam a apresentação de analogias entre o mundo dos negócios e a magia”. Uma analogia que Cottim Oliveira, o líder da associação, considera extensiva ao facto de a actividade de um mágico e o trabalho de um empresário serem “maiores do que se possa pensar”.
Descontando o facto dos jovens empresários serem quase sempre mais empresários do que jovens, a ideia do workshop é avisada. E atenta. De facto, nunca a actividade económica teve tantas semelhanças com o ilusionismo. Nos últimos tempos, aliás, Portugal deu fartos exemplos da sua queda para este nicho de mercado, sobretudo no sector bancário. Desconfio mesmo que o BPN e o BPP mantinham – mais uma vez sem o conhecimento de Constâncio – escolas de formação na área, com grau de doutoramento mais rápido do que Bolonha. A julgar pelo que se lê, prestidigitação, a magia e a ilusão eram prática corrente. E de sucesso.
Porém, como todos sabemos, o bom ilusionista não deixa rasto nem revela os truques. E talvez por isso a ANJE queira aperfeiçoar as qualidades dos futuros gestores. Um dos métodos para chegar a tal é o “mentalismo” e visa adivinhar o pensamento dos clientes. Vai daí, contrataram o Jomaguy. A falha talvez esteja aqui. Sem querer beliscar o currículo de Jomaguy, que leva “25 anos magicando”, a realidade é que o nosso País tem gente mais qualificada para a tarefa. É verdade que um ou outro estão presos. Mas magicar foi o que eles fizeram toda a vida, de Porto Rico a Marrocos, de Oliveira de Azeméis a Lisboa. E, com maior ou menor dificuldade, continuam no activo, a magicar.
Se o objectivo da ANJE é, como diz o seu presidente, “adaptar as características de um espectáculo de ilusionismo ao universo das empresas”, já existe trabalho feito e, assim sendo, há que ir buscar os melhores. Estão disponíveis, têm livros publicados, experiência política e fazem desaparecer qualquer coisa que lhe ponham nas mãos, de actas de reuniões a bancos de sucesso. E além disso, o circo até já está montado.