A minha colega Carmo Machado identificava, há dias, na Visão, alguns dos reais problemas que afetam os professores, ao mesmo tempo expressando a sua expetativa em relação à futura ação do atual ministro e uma réstia de esperança no seu secretário de estado por ser professor de um agrupamento de escolas. Simultaneamente, apontou o dedo à alegada ineficácia dos sindicatos na resolução dos problemas dos professores, considerou-os descredibilizados, manifestando, ainda, a opinião (que é legítima, claro) de que o atual secretário-geral da FENPROF já deveria ter deixado de o ser, regressando à profissão que abandonou. A propósito desse texto, algumas notas que apenas pretendem ser esclarecedoras de alguns daqueles comentários:
- Sobre os ministros, sobretudo em início de mandato, é justo que tenhamos expetativas positivas, mesmo quando já integraram as equipas ministeriais nos últimos 6 anos, pois, se assim não fosse, para quê negociar ou lutar?
- Quanto aos secretários de estado que provêm de agrupamentos de escolas também é justo haver esperança reforçada, mesmo que há décadas exerçam funções fora da escola, mas que, apesar de serem nas áreas do poder, não deixam de ser importantes;
- Sobre o secretário-geral da FENPROF, é curioso que, sendo também ele um professor de carreira (AE Rainha Santa Isabel, em Coimbra), o facto de estar em funções sindicais há, mais ou menos, tantos anos quantos os do secretário de estado fora da escola, naquele caso se considere abandono da profissão;
- Também não deixa de ser curioso que havendo dirigentes sindicais de outras organizações em funções há mais anos do que o secretário-geral da FENPROF, esses nunca sejam citados, provavelmente por não incomodarem;
- Curioso, ainda, é que o sindicalista que deveria regressar rapidamente à escola seja o que dá a cara pela sua profissão, não retira vantagens das funções para que foi eleito pelos pares, não tem tempo para adquirir graus académicos, não exerce outra atividade e não permanece fora do país;
- É verdade que em 2019, quando já pretendia regressar à escola, anunciei, para que não restassem dúvidas, que seria o meu último mandato, só que nessa altura, como agora, as direções sindicais insistiram na minha continuidade e no recente congresso da FENPROF, mais de 90% dos cerca de 600 delegados presentes votaram para que continuasse;
- Neste quadro, eu mesmo propus ao congresso, para continuar, a existência de dois secretários-gerais adjuntos, permitindo partilhar funções, promover a unidade e preparar o futuro, tendo o congresso aprovado uma alteração estatutária para viabilizar a solução;
- Não me sinto o representante dos professores, mas só dos cerca de 50 000 associados dos sindicatos da FENPROF e esses, esmagadoramente, têm considerado importante a minha continuidade nas funções para que fui eleito em 2007;
- Poderia, de facto, ter abandonado a profissão, mas nunca me deixei seduzir por convites e portas abertas nesse sentido;
- Também não sou dos que considera que os professores autarcas, deputados ou assessores de governantes há muitos anos, por terem esse tipo de intervenção cívica, abandonaram a sua profissão;
- Quanto à ineficácia dos sindicatos, que se pense como estariam os professores sem os seus sindicatos… A carreira estaria melhor? A precariedade eliminada? A aposentação mais cedo? As condições de trabalho mais positivas? Não haveria falta de professores?
- Sejamos justos, a ação sindical obteve resultados que noutra oportunidade poderemos listar, mas mesmo que só se tivesse limitado a resistir, nos quadros políticos que temos vivido ela já era importante e talvez por isso tantos profissionais de outras áreas nos digam “O que nós precisávamos era de uma FENPROF e de sindicalistas como os dos professores”. Mesmo sendo injusta para os seus sindicatos, tal afirmação não deixa de nos orgulhar.