A ideia e a sua concretização parecem-me brilhantes. Acabo de conhecer a Beta através do seu perfil no Facebook, criado há poucos dias, e troco dois dedos de interação com ela via chatbox. Às tantas não consigo conter o riso porque o projeto tem tanto de surpreendente quanto de divertido, atual e sério. Beta é uma ferramenta de mobilização online desenvolvida por um laboratório de ativismo social chamado Nossas que tem como premissa trabalhar para um mundo mais justo e democrático. O laboratório acredita que este mundo é possível se os poderes de uns não oprimirem a potência de outros. Para alcançá-lo, desenvolve tecnologias de ponta voltadas para o ativismo e arma os agentes da mudança com estas tecnologias, sendo estes agentes o cidadão comum que comunga dos mesmos ideais e quer envolver-se. Pratica estratégias às quais chama oneline, que vêm da conjugação da mobilização do online com a rua, com o offline, com foco no engagement dos indivíduos pela aplicação adequada das ferramentas digitais. Uma das ferramentas é Betânia, mais conhecida por Beta, uma robô feminista que tem um site e um perfil no Facebook. Foi programada para monitorizar medidas políticas, alertar e engajar a comunidade, e assim potenciar as lutas necessárias para que o reboot social aconteça. É inteligente, sensível, e quer um mundo justo.
Fiquei surpreendida com o vanguardismo da proposta, o humor e a seriedade usados para concretizá-la, a articulação da realidade política e social do Brasil com as ferramentas digitais colocadas ao dispor dos cidadãos. Se alguém está a praticar a ideia de cidadania contemporânea da era pós-digital, são estas pessoas. Irei acompanhar o desenvolvimento do projeto e estou curiosa por perceber como a Beta irá monitorizar as políticas que vão contra os direitos das mulheres e mobilizar a população na via digital e nas ruas até que a transformação social aconteça, já que é esta a sua proposta. Poderá ser um case-study singular de ativismo e engajamento numa época de desfragmentação e alienação das populações que o digital tanto ajuda a partir como, concomitantemente, a unificar. Vivemos tempos de contradição e paradoxo, próprios desta era, dos quais brotam projetos idealistas e holísticos em forma de robô. Os androides não são mais do que a projeção e o prolongamento da mente, anseios e ansiedades humanas num formato não humano, embora alguns tenham pele e respirem como os humanos. No fundo, somos nós em modo máquina. Divirtam-se (aqui) com ela no Facebook e leiam os seus propósitos. (Ainda) não é todos os dias que interagimos com um robô.