É frequente encontrar profissionais altamente qualificados, excelentes líderes, com elevados níveis de performance, e baixo reconhecimento fora da sua esfera direta de atuação. Ao confrontarem-se com a dura realidade de haver colegas com níveis de performance e resultados menos brilhantes, gozarem de melhor reputação, concluem simplesmente que os outros se vendem melhor e são por isso um embuste. Ao alimentarem estes pensamentos, perpetuam a clivagem e desenvolvem uma atitude de desprezo por tudo o que lhes soe a autopromoção, aumentando ainda mais o isolamento e a ausência de investimento numa gestão consciente da sua imagem.
A escolha que fazem de forma inconsciente acaba por se tornar uma profecia auto-cumprida, em que veem a sua teoria confirmada e reconfirmada, sem nada fazerem para alterar essa dinâmica. Torna-se tanto mais difícil sair da zona de conforto e assumir uma atitude de mais proatividade e exposição dos seus talentos, quanto maior for o preconceito que alimentam como mecanismo de proteção do seu orgulho. O primeiro passo para sair desta armadilha, é enfrentar a realidade: há de facto profissionais que são muito dotados em comunicação, relacionamento interpessoal e influência e não são necessariamente os que têm competências técnicas e de liderança mais desenvolvidas.
E se em vez de os olhar com desprezo, começar a observá-los com curiosidade genuína, apreciando a sua habilidade nestas competências? E se aos poucos for aprendendo a ter uma comunicação com impacto, em lugar de fazer intervenções monótonas, cheias de detalhes e de baixa eficácia? E se aos poucos for levantando os olhos do computador e dos temas da sua área e circular pela empresa, construindo uma poderosa rede de relações? E se for trocando opiniões e der a conhecer a sua visão sobre temas chave, revelando aos poucos a solidez dos seus argumentos, o profundo conhecimento dos assuntos e a sensatez que o caracterizam? E se der por si a ter prazer em ajudar outras áreas e contribuir para a resolução de temas que não lhe dizem diretamente respeito e põem à vista as suas capacidades, não só na pequena comunidade da sua área, mas transversalmente a toda a empresa?
Esta viragem não tem de ser artificial. As competências de inteligência emocional, que estão na origem desta mudança, podem ser desenvolvidas e integradas em qualquer idade ou fase da carreira. Trata-se de uma evolução que tem por base o autoconhecimento e a escolha consciente de incorporar e muscular competências que não tem aplicado e escolhe começar a desenvolver.
Deixo-lhe aqui algumas técnicas que podem ajudar:
1 – Autoconhecimento: identifique os seus talentos, capacidades e resultados alcançados que merecem um reconhecimento maior do que aquele que tem recebido. Imagine o cenário perfeito: esses talentos a serem amplamente reconhecidos, pessoas relevantes para si a terem conversas informais sobre as suas qualidades, os sinais de uma reputação sólida e inequívoca, as oportunidades que se abrem. Saboreie demoradamente tudo o que de gratificante resulta do exercício. Deixe-se energizar e inspirar pela antecipação do prazer que irá sentir quando alcançar este seu objetivo.
2 – Escolha ser parte da solução: profissionais muito competentes tendem a frustrar-se com a ineficiência, adotando comportamentos hostis e agressivos que tornam o ambiente tóxico. Sem se darem conta, acabam por tornar-se parte do problema. Por muito frustrado que se sinta, aprenda a gerir as suas emoções sem contaminar o ambiente à sua volta. Foque-se no que está a acontecer e descubra como pode ajudar. Dê sugestões sobre formas de evitar que os mesmos problemas voltem a acontecer, em privado, quando sentir que há abertura para isso.
3 – Saia do seu castelo e circule: progressivamente, vá abandonando a sua zona de conforto e estabelecendo pontos de contacto com outras áreas e outros fóruns. Pode optar por ir ter com a pessoa, em vez de enviar um mail ou telefonar. Aos poucos dará por si a gerar uma dinâmica de comunicação muito mais fluida e eficaz. Considere este tempo parte da função que exerce. Construir relações sólidas é meio caminho andado para gerar alianças naturais e uma rede de suporte relevante quando enfrenta tensões e dificuldades.
4 – Calibre o impacto da sua comunicação: profissionais exclusivamente focados na excelência e nos resultados tendem a ser comunicadores fastidiosos e pouco eficazes. Invista tempo no início das reuniões para estar em ambiente informal com os colegas, interesse-se pelo que estão a fazer e partilhe o entusiasmo que está a viver nos seus próprios projetos. Ao intervir, lembre-se que “less is more”. Faça intervenções curtas e impactantes, num tom construtivo. Mesmo em temas difíceis, mantenha-se calmo e contribua de forma positiva.
5 – Partilhe sucessos e desafios: a partilha emocional gera relações fortes e genuínas. Quando enfrenta desafios, descobrirá nessas conversas opções que não tinha considerado. Isso é valorizante para quem o está a ajudar a pensar em soluções e cria precedentes para que o outro se sinta à vontade para recorrer a si quando se encontra em situações equivalentes. Partilhe o entusiasmo dos sucessos, agradecendo o contributo que deram para os alcançar. Ponha à vista o que possibilitou esses resultados, gerando progressivamente uma consciência dos seus talentos, de forma natural e genuína.
6 – Seja um embaixador dos talentos dos outros: aprecie diretamente os outros por algo concreto que fizeram ou disseram, sempre que for essa a sua opinião genuína. Mesmo quando não estão presentes, não se iniba de fazer boas referências a colegas se for mesmo isso que pensa sobre eles. Contribua para um ambiente apreciativo onde os talentos florescem. Os seus próprios talentos encontrarão assim condições favoráveis para se expandirem e serem reconhecidos. Lembre-se: “comportamento gera comportamento”.
7 – Mostre consistência e integridade: sempre que incorporamos novas competências, temos de nos manter vigilantes para não voltar aos antigos padrões. Uma vez iniciada esta viragem, mantenha-se firme na sua determinação em assumir responsabilidade pela sua reputação e impacto. A sua integridade estará em risco se demonstrar falta de consistência. Ao escolher uma atitude construtiva, generosa e relacional, queime as pontes que lhe permitem regressar à zona de conforto. Não se autorize a parar só porque entraram temas que exigem atenção e dedicação exclusivos. Aprenderá rapidamente que o tempo nunca chega e tem que fazer compromissos. E se é isto que quer, terá que ser consistente e dar a prioridade que o assunto tem para si.
Esta transformação será o início de uma nova etapa. Abrace-a com entusiasmo. Estará a evoluir para o seu próximo nível. Estará a criar as condições para que haja uma nova dinâmica na sua vida profissional que resultará em níveis de realização superiores e novas oportunidades. O tempo que dedicar dará os seus frutos e a proporção será direta: quanto mais investir mais resultados irá alcançar.
A escolha é – e sempre foi – sua!