Embora seja ferramenta para uma minoria a verdade é que podemos dizer que a vídeo conferência já é coisa banal. Vou deixar de lado os grandes sistemas corporativos que praticamente recriam reuniões presenciais com os participantes em locais bem diferentes e que custam fortunas. No dia a dia de escritórios mais modestos, nas casas de emigrantes ansiosos por um sorriso familiar é banal a vídeo conferência e não é de hoje. Qualquer smartphone recente suporta bem as chamadas com vídeo, e a Google já tinha um sistema o Hangouts, que suporta múltiplos participantes. O mercado já conhece bem o Skype que faz muito mais do que chamadas de vídeo e até já tem tradução de conversas para quem não tem um idioma comum para comunicar. A ferramenta da Microsoft é um dos principais meios de comunicação dos mais novos, usam o Skype ao mesmo tempo que jogam online com os amigos. Os utilizadores da Apple parecem satisfeitos com o FaceTime que usam para chamadas de vídeo ou só de voz mas com o obvio inconveniente de só funcionar entre aparelhos da marca, o tipo de arrogância que tem levado a grandes derrotas. O Facebook permite chamadas de vídeo no seu Messenger.
Então mais uma? A Google afirma que fez este Duo para que tudo seja mais simples, convencidos de que a vídeo conferência tarda em banalizar-se ainda mais porque as aplicações são demasiado complexas. Não me parece que os concorrentes sejam assim tão complicados, mas a Duo é do mais simples que se pode esperar. Além da simplicidade a única novidade que traz é que quem recebe a chamada pode ver o interlocutor mesmo antes de decidir atender. Podemos decidir se queremos atender aquela pessoa ou não em função da cara que nos mostre. De resto é tão simples que não parece trazer nenhuma mais valia, nada de novo que nos faça experimentar mais uma aplicação que faz o que já conhecemos, mas pode trazer truques na manga. A primeira é a otimização que a empresa diz que fez, supostamente adapta-se bem a redes mobile ou seja deve ser utilizável na rua sem Wi-Fi e sem que a imagem esteja constantemente a congelar. A Google diz mesmo que passa muito bem de redes Wi-Fi para redes mobile, para quando vamos a sair de casa podermos continuar a chamada de vídeo sem interrupções e sem gastar um disparate de dados. Esperamos que seja verdade, é o tipo de coisa que só com a utilização intensiva e muitos utilizadores em simultâneo se testa verdadeiramente, não deve demorar muito, a aplicação está a ter sucesso e muitos a estão a instalar. Dentro de poucas semanas ou estão todos contentes ou chovem protestos por promessas não cumpridas.
Eu acredito que há uma série de razões que a Google não menciona para que a vídeo conferência não seja o sucesso previsto nas histórias de ficção científica de há anos. É pouco prático andar na rua com o telemóvel levantado à nossa frente para que o interlocutor não nos perca, por cá é quase impossível ver alguém assim mas é verdade que nas grandes cidades dos EUA já ninguém estranha. É difícil dizer, não senhor não incomoda nada, se nos apanharem em robe ou no meio do almoço. Acresce que ou temos o auricular prontinho ou a conversa começa logo em alta voz o que é frequentemente embaraçoso para quem recebe uma chamada e para os que o rodeiam, mesmo que não se diga nada inconveniente, é demasiado pessoal. Controlamos melhor as emoções transmitidas apenas com a voz, ou seja, somos mais transparentes quando mostramos a cara o que pode ser razão para muitas vezes preferirmos apenas a voz. Há também a relativa pouca qualidade da comunicação mas a Google diz que fez progressos nesta área.
Tendo tudo isto em conta porque é que a Google tem uma aplicação nova para vídeo conferência? Eu apostaria que é só mais um passo. Uma aplicação de voz, para chamadas telefónicas “normais” hoje em dia é uma aplicação de vídeo conferência à qual desligaram o vídeo. Acrescente-se que a Google tem neste momento o poder para instalar uma coisas destas na maioria dos telefones do mundo. Ainda por cima é gratuita e não funciona apenas nos Android funciona também nos iPhones da Apple e talvez até com mais eficiência neste caso, frequentemente a Google e a Microsoft fazem melhores versões dos seus programas para os aparelhos Apple do que para os seus próprios.
Ou seja se não se importar de criar uma nova guerra com os operadores, a Google pode tomar conta de mais uma grande parte das nossas comunicações. Uma parte, a voz, tradicionalmente reservada aos operadores tradicionais mas que muitos já entenderam que é mais um mercado que desaparece, sobretudo porque estão aí os sinais de que há vontade de começar a vender pacotes verdadeiramente ilimitados de dados. Com estes pacotes seja em vídeo ou em voz, ou por simples mensagens escritas nunca mais pagaríamos o custo de uma comunicação. Deixam completamente de fazer sentido as longas listas de chamadas na fatura mensal, estará tudo incluído no mesmo preço fixo de acesso à Internet. E já vinha a calhar.