Contexto
Antes de iniciar qualquer processo de (re)negociação é importante fazer uma análise contextual, isto é, perceber em que fase está a empresa com quem pretende (re)negociar. Analise factores internos como crescimento, custos e investimentos. Será mais fácil conseguir um salário melhor durante uma fase de crescimento, mas essa não é sempre a regra. Se possuir uma competência muito específica ou desempenhar uma função-chave, pode alavancar a sua negociação nesses factores, sobretudo se estiver num processo de mudança de empresa. Analise também o contexto externo, olhando para a concorrência e para o sector onde a empresa está inserida. Através desta análise conseguirá perceber se a empresa está acima ou abaixo do mercado.
E olhe também para posições iguais ou semelhantes à sua ou para a qual está a ser contratado. Se concluir que já tem um pacote salarial acima da média diversifique as respectivas fontes, negociando outro tipo de benefícios.
Quando negociar ou renegociar
A negociação acontece tipicamente em fases de mudança profissional ou aquando do primeiro emprego (que tem por si só características muito próprias e que não serão abordadas neste artigo). Nestas fases de mudança existe sempre uma base salarial, pois mesmo que esteja numa fase de transição, o seu salário anterior servirá de base de comparação. É normal que nesta fase procure um aumento da massa salarial, mas não espere necessariamente um aumento da componente fixa.
A renegociação pode acontecer em diferentes momentos, sendo que estas janelas de oportunidade surgem: quando se concluem etapas na fase de evolução profissional, quando existem promoções ao nível da função (aumento de responsabilidade), quando termina (ou mesmo durante) uma formação importante que possa trazer mais-valia para a empresa (exemplo MBA), e, claro, nos programados momentos de avaliação. Em qualquer um destes momentos é muito importante conseguir demonstrar o seu valor e contribuição positiva para a empresa de forma a justificar o aumento salarial que irá sugerir.
O mais importante é incorporar a renegociação num plano de desenvolvimento de carreira, pois assim também existe uma perspectiva de futuro para ambas as partes.
O que pode estar englobado no pacote salarial
O pacote salarial mais comum para funções ao nível de quadros médios pode incluir salário fixo, bónus, plano de acções (em caso de empresas cotadas), viatura (ou subsídio, pois cada vez mais as empresas pretendem não ter este encargo), seguro de saúde e telemóvel.
Estas são as mais frequentes fontes de compensação. Contudo existem outras e que, num mercado de trabalho competitivo, podem fazer a diferença, permitindo às empresas que não podem competir na arena salarial, oferecer alternativas individualizadas e que vão de encontro às diferentes necessidades das pessoas.
Estas outras formas de remuneração passam por seguros extensíveis à família e com diferentes planos, plano de pensões, horários de trabalho flexíveis, bónus de assinatura (aquando da mudança profissional), pagamento de custos de mudança e/ou realocação (alojamento inicial, transporte para a família – elementos que, num mercado cada vez global, fazem mais sentido), comissões de venda (especificamente para funções comerciais), subsídio para casa e despesas da mesma, subsídio para escolas dos filhos dos colaboradores, ou subsídio para formação. Existem ainda outros incentivos que deverão ser igualmente considerados como formas de retribuição, como oferta de bilhetes para eventos, festas da empresa (especialmente quando incluem viagens), prendas de casamento, subsídio para compra de roupa, ginásio e subscrição de publicações.
Estes benefícios têm custos para a empresa e frequentemente não são percepcionados pelos seus colaboradores como parte integrante do seu pacote salarial.
Regras básicas para a (re)negociação
A primeira regra é a do bom senso. Use-o! Não centre a sua vida profissional neste processo, mas considere-o parte integrante da sua evolução. Deve ser um processo win-win e não de desgaste de ambas as partes – não adopte uma postura inflexível e irredutível, pois mesmo que isso o/a leve a vencer no imediato, poderá ter repercussões negativas no futuro. E tenha presente que o nível de exigência a que será sujeito(a) será maior, pois ao elevar a fasquia salarial deverá elevar o retorno.
Neste processo pense a médio/longo-prazo e faça-o de forma transparente e consciente. Sobretudo quando negoceia a mudança para outra empresa, não apresente valores impossíveis de alcançar. O melhor exercício a fazer é colocar-se no lugar de quem o está a recrutar ou de quem está a renegociar o seu salário na sua empresa.
Muitos profissionais referem que não sabem negociar e que por isso não colocam este tema aos seus responsáveis hierárquicos. A verdade é que todos sabemos negociar, embora uns se sintam mais confortáveis do que outros. Se sente que este não é um tema natural para si, informe-se e procure aprender com quem o faz bem.
Concluindo, não há uma melhor forma de (re)negociar – todas são boas desde que o resultado seja positivo para ambas as partes, e que ao longo do processo não exista um desgaste prejudicial ao desenvolvimento da sua carreira e um desfoque no primeiro objectivo. Este deve sempre ser o de ter uma boa performance. Sendo um tema sensível, prepare-se bem para o abordar e tenha consigo análises de mercado e da sua rentabilidade como profissional, por forma a justificar os seus argumentos.
* (O autor escreveu este texto com base na ortografia antiga)