Para a nossa conversa de hoje decidi trazer como tema os livros e a leitura, sobretudo no que respeita aos mais novos e ao tempo fora da escola.
Muitos estudos e a experiência mostram que os hábitos de leitura são pouco consistentes entre as crianças, adolescentes e jovens como, sem surpresa, também o são entre a população em geral.
Por outro lado, também sabemos que a existência de hábitos de leitura e o contacto regular com livros no ambiente familiar são contributos muito importantes para a construção de percursos escolares e educativos bem-sucedidos.
Sabemos ainda o quanto é positivo que os pais ou outros “mais crescidos” se envolvam com as crianças, mesmo em idade de jardim-de-infância, em práticas de leitura e de actividades com os livros para, por exemplo, contar histórias a partir das imagens. Lembro-me de ouvir o Mestre João dos Santos afirmar que as crianças aprendem a ler desde que abrem os olhos.
É verdade que os estilos de vida actuais ou a quantidade de tempo que muitas crianças passam nas instituições educativas podem minimizar a disponibilidade familiar para este tipo de actividades depois de dias muito compridos e cansativos para todos.
Também sei que os livros e materiais desta natureza têm uma concorrência fortíssima com outro tipo de materiais, jogos ou consolas por exemplo, e que nem sempre é fácil levar as crianças a outras opções, designadamente aos livros.
Apesar de tudo isto, também sabemos todos que é possível fazer diferente, mesmo que pouco diferente e com mudanças lentas.
Estamos no tempo do Natal, no tempo da família, no tempo dos presentes embora eu sempre diga que mais do que os presentes importam os futuros que preparamos para os miúdos.
Neste entendimento poderíamos experimentar oferecer livros e tempo para com eles brincar.
Os livros e materiais desta natureza quando usados em comum têm ainda uma mais-valia: alimentam a relação ente adultos e crianças, um bem de primeira necessidade como sabem.
A história que se conta a partir das imagens a crianças que ainda não sabem ler ou a leitura partilhada são patamares motivadores e contributivos para a leitura autónoma, competente, que se torna uma ferramenta imprescindível para o acesso ao saber, a todos os saberes.
É claro que à escola compete um trabalho de ensino da leitura e também de construção de hábitos de leitura. Este trabalho imprescindível e continuado, que nem sempre decorre da forma mais adequada por razões que um dia aqui abordaremos, pode minimizar efeitos da menor atenção familiar a estes aspectos. No entanto, não é suficiente para dispensar o que nos contextos familiares pode ser feito a propósito da leitura e da importância dos livros.
Por todas estas razões e de uma forma intencionalmente muito simples, seria desejável que nos convencêssemos todos, professores, pais e outros intervenientes na vida de crianças e jovens, que só se aprende a ler, lendo, só se aprende a escrever, escrevendo, só se aprende a andar, andando, só se aprende a falar, falando, a decidir, decidindo, etc., etc.
(Texto escrito de acordo com a antiga ortografia)