Para todos nós, a tecnologia de consumo, as coisas que usamos de facto, mudam a uma velocidade impressionante, sobretudo quando gostamos de andar na crista da onda, o pior exercício possível para qualquer carteira.
Para alguns de nós, que temos como profissão acompanhar a evolução tecnológica também é verdade que anda tudo muito depressa, com uma pequena diferença, temos que escrever sobre os novos gadgets, e a evolução tecnológica de aparelho para aparelho é normalmente mínima. Há um ecrã um pouco melhor, uma velocidade um pouco mais rápida, um som impressionante, são tudo pequenas evoluções, fraco pretexto para notícia. Só que, ao fim de uns meses, olhamos para trás e parece que a soma das pequenas coisas mudou tudo.
Hoje, apetece-me contar apenas pequenas coisas que, quando olharmos para trás, veremos que mudaram tudo.
Volto a dizer então, a rodinha da Samsung, mais exatamente a do seu ultimo relógio “inteligente”, o anel que roda tal como nos antigos relógios de mergulho, é daquelas pecinhas que mudam as regras do jogo. O Samsung Gear S2 é uma mudança radical na estratégia da marca. Todos estes relógios dependem, em maior ou menor grau, de um telefone. Os que usam o sistema IOS são feitos pela Apple para os iPhones. Os da Samsung tipicamente só funcionavam com os modelos topo de gama da marca. Era preciso comprar um telefone dos mais caros do mercado para poder comprar um relógio, dos mais caros do mercado, toda uma extravagância.
Agora a Samsung usa o seu próprio sistema operativo, o Tisen, mas tornou-o compatível com algumas aplicações Android em qualquer telefone. É uma pequena coleção, mas está lá o essencial para que o relógio justifique o preço, que também baixou consideravelmente. Enfim, que justifique o preço para o mercado atual, porque, aqui há uns anos, se comprássemos um relógio de 350 euros podia durar uma vida ou até mais. Os novos ficam desatualizados num instante, mas também é verdade que já nem lhes devíamos chamar relógios, são acessórios de computadores que também dão horas, e neste caso o computador é o telefone. A rodinha é um salto de gigante na forma como interagimos com as pequenas máquinas nos nossos pulsos, tudo ficou mais fácil e intuitivo.
Mais uma coisa que a Apple não inventou mas que de facto colocou no mercado. Desde que o iPhone tem autenticação por impressão digital todos os telefones mais avançados passaram a fazer o mesmo. Isto só por si pode ser um enorme passo para a banalização dos pagamentos por telemóvel, em todas as marcas. Melhoraram muito a eficiência ao longo deste ano, e os leitores são todos mais ou menos práticos. A Sony lançou no fim do mês passado o seu novo modelo premium em Portugal. Colocou o leitor da impressão no botão de ligar e desligar, no lado direito do telefone. O Z5, como os modelos anteriores, parece um simples vidro liso, embora este seja antes um espelho liso. Para os destros é impressionante como o polegar da direita ou o indicador da esquerda vão repousar sobre este botão sem pensarmos nisso, ou seja a autenticação acontece sem nenhuma manobra, o dedo já lá está quando é preciso.
Os artigos sobre este telefone focam o facto de ser à prova de água, como os anteriores da Sony, e de terem o primeiro ecrã 4K em qualquer telefone. Há quem diga que a resolução já é tanta que o olho humano não consegue detetar melhorias significativas em relação ao que chamamos alta definição. As diferenças estão lá, se formos ver à lupa, mas à distância a que usamos estes ecrãs, mesmo quatro vezes mais resolução, torna-se quase impercetível.
Eu a escrever isto e pedem-me para testar um projetor que a Vodafone está a vender. Porque é que a Vodafone vende um projetor que é fabricado pela ZTE? Porque arranjou forma de colocar o seu serviço de TV lá dentro. O projetor em si é minúsculo, tem ligações HDMI e pode receber pens USB para passar vídeos. Depois começa a ser divertido porque funciona como um telefone Android, até tem um ecrã tátil e tem Wi-Fi, ou seja, podemos lá pôr aplicações. Ou seja, podemos pôr YouTube, Netflix, Vímeo ou mesmo alguns jogos e projetar na parede ou no teto. Já concretizei o sonho de criança de ver TV no teto, foi com um documentário sobre cozinheiros no Netflix. Podemos ver TV em direto, desde que tenhamos o serviço da Vodafone, que instalemos a aplicação da TV Vodafone para Android, e desde que haja wi-fi disponível. O anunciado HD não chega aos ecrãs, mas o tamanho da projeção pode ser mesmo grande, temos é que ter muito espaço para recuo. No teto cá de casa já dá uma boa TV, para levar a coisa ao máximo tive que usar a parede branca exterior de um pequeno edifício, à noite. A caixa refere qualquer coisa como 3 metros de diagonal e deve andar por aí. Exagerando um pouco, é como uma TV de qualidade razoável, com uma imagem gigante, que podemos levar para qualquer lado. Divertido é, mas descobri que é muito mais difícil do que se imaginaria encontrar boas paredes brancas, lisas, sem rugosidades, e onde nos possamos afastar uns bons metros e dê para escurecer o ambiente. Há sempre a hipótese de uma sessão de mini cinema noturno ao ar livre, se lhe juntarmos umas boas colunas.
São simples objetos com pequenas evoluções, cada um deles simboliza uma tendência. Os relógios “inteligentes”, provavelmente mais um aparelho de que nunca sonhámos precisar, e que um dia destes andará connosco como os telemóveis, a autenticação biométrica e os pagamentos mais seguros e, estou a adivinhar, a libertação do vídeo da moldura dos ecrãs.