Diz-se de dois amigos que têm relações sexuais casualmente, ou quando lhes apetece, que são amigos com benefícios. E esta relação entre amizade e benefícios sexuais tem-se tornado muito popular. Ou seja, sexo sem compromisso, sem paixão e sem envolvimento emocional.
Dependendo dos protagonistas, pode ser entre pessoas que se conhecem há pouco tempo, ou amigos de mais longa data. O foco parece ser mais na inexistência de compromisso do que na qualidade da amizade. Assim, pode ser um sexo sem a excitação do desejo do outro, sem borboletas na barriga, em lume brando, um sexo mais triste. Ou pelo contrário, um sexo excitante e mais libertador, sem mais nada a seguir, livre do medo de falhar ou de não agradar, um sexo tranquilo, sem ter que corresponder a expectativas, sem medos nem ansiedades, enfim, sem nada a perder. Assim, as duas pessoas são mais ou menos amigas, e ninguém suspeita que se envolvem sexualmente quando lhes apetece. Também se podem chamar amizades coloridas, e no inglês, fuck buddy, booty call, fwb, fuck buddies, ou hook up.
A amizade com benefícios pode acontecer entre jovens, que não estão preparados ou interessados em assumir compromissos, ou pessoas mais velhas, que já têm compromissos com outras pessoas. Ou seja, nos adultos, a amizade colorida pode ser um novo nome para um velho conceito.
Nunca como hoje existiu tamanha diversidade de graus de compromisso nas relações. Entre o casamento tradicional para toda a vida – onde o compromisso também é com Deus – e os chamados amigos com benefícios, existe uma enorme diversidade de relações, desde as amizades coloridas ao poliamor, uma particular forma de compromisso entre várias pessoas que se envolvem amorosa e eroticamente entre si.
Homens e sobretudo mulheres, são hoje mais livres do que nunca para perseguirem a realização amorosa e sexual. No modelo antigo, o casamento era determinado por outras coisas, por exemplo, por interesses económicos ou familiares (era muitas vezes um contrato económico), tradições, ou factores externos como seja uma gravidez inesperada. Nos novos modelos de relação, o casamento é determinado por factores amorosos, as pessoas juntam-se por amor, e a relação dura enquanto durar o amor.
No contexto atual, o grau de compromisso das relações pode ser altamente variável, e algumas vezes não existir de todo. Assumir um compromisso implica um investimento que muitas pessoas não estão interessadas em fazer. Numa amizade com benefícios, o maior benefício não é propriamente o sexo, mas sobretudo o não haver compromisso. Parece que interessa mais ficar disponível para a possibilidade de encontrar outra pessoa de quem se goste mais, ou que “sirva melhor” os meus interesses, alguém que goste do que eu gosto, alguém que encaixe em mim. E quando eu descobrir que não encaixa, troco. Como diz o Edward Shorter – professor de psiquiatria e história da medicina na Universidade de Toronto – as pessoas juntam-se e separam-se como vagões de mercadorias num pátio de manobras*.
A tendência atualmente, é adiar o compromisso. Todos temos pressa de chegar ao amor, mas ninguém tem pressa no compromisso amoroso. Vai-se devagar, prova-se, experimenta-se, troca-se e volta-se a experimentar. E só depois o compromisso. E chegar rapidamente ao sexo é uma forma de mais depressa conhecer o potencial parceiro, para só mais tarde chegar ao dito compromisso. Assim, parece que o sexo rápido faz parte da estratégia para chegar ao amor. Esta é a grande novidade nos tempos modernos: a emergência do amor lento. E o grande aliado neste processo, é a liberdade. Somos hoje mais livres do que nunca para escolher. Cada um pode livremente escolher entre várias combinações, sejam elas o sexo sem compromisso e sem amor, o amor com compromisso mas sem sexo, o sexo com mais ou menos compromisso, com uma ou mais pessoas, com mais ou menos amor, ou paixão, enfim, o que se quiser. Desde que a escolha seja verdadeiramente livre, porque às vezes não é.
*Edward Shorter, A formação da família moderna, 1995, Terramar.