Há 15 anos, o polémico escritor e editor Luis Pacheco escreveu o livro “Isto de estar vivo” onde, a páginas tantas, dava sentido ao título afirmando “Isto de estar vivo ainda um dia acaba mal”.
Não se estava a referir à vida política, mas é uma afirmação que também nela faz sentido.
Na política, a opção de sucesso tem sido a de enganar a vida, fazendo-se de morto, ou, pelo menos, de mudo, sobretudo em relação aos temas que mais interessam os eleitores.
Dizer pouco compromete pouco e aparecer pouco compromete ainda menos. Assim, poupa-se nas ideias, poupa-se nos cartazes e, acima de tudo, poupa-se no risco de errar, no risco de afastar eleitores. Medindo bem, hoje em dia, os riscos são maiores do que as oportunidades.
No mundo das redes sociais onde o palco é grande e o filtro é pequeno, o enredo da peça é o da gaffe e do ridículo. O escrutínio da campanha política é enorme mas o curioso é que normalmente é feito pelo eleitorado dos restantes partidos. O discurso e a forma são escrutinados, analisados e dissecados na praça pública e se esses forem risíveis são, então, partilhados e resultam virais.
Como se diz pouco de concreto, como se é pouco assertivo, não é de estranhar que se tenha sedimentado a ideia de que a vida política está cheia de ideias boas e novas, só que as novas não são boas e as boas não são novas.
As ideias concretas, que existem certamente, raramente são propagandeadas em campanha porque esbarram sempre com oposição, também ela, concreta e alicerçada em pequenos núcleos com direitos adquiridos que facilmente se vitimizam. Mais uma vez, e no mundo das redes sociais, é fácil empatizar com as vítimas e quando tal acontece perdem-se mais eleitores do que os que se pretendia ganhar.
Schiuuuuuu, silêncio, há que enganar a vida, fazendo-se de morto, ou, pelo menos, de mudo, até porque é enganando a vida que não se torna necessário enganar os vivos.
Senão vejamos, podem hoje dizer os eleitores que votaram PS, que não dão o seu aval a uma coligação com a esquerda ou até mesmo com a extrema esquerda? Não. Ninguém nunca lhes disse o contrário. Aliás nunca ninguém lhes disse nada sobre isso.
Podem hoje dizer os eleitores da CDU e o BE que não dão o seu aval a uma coligação com o partido que chamou a Troika ou que não querem prescindir da saída do Euro e da NATO, pela qual votaram, a bem de chegar ao poder? Não. Ninguém nunca lhes disse o contrário. Aliás nunca ninguém lhes disse nada sobre isso.
Nunca niguém lhes disse nada de muito concreto sobre vários temas essenciais. Por isso podemos intuir que as opções políticas expressas no voto são muitas vezes mais contra do que a favor. A esquerda vota acima de tudo contra o governo. A abstenção é acima de tudo contra o sistema político. O voto na coligação foi um voto contra a ideia de voltar ao descontrolo.
Votou-se contra, porque nada de substancial havia para se votar a favor.
É também por isso que os cartazes já não ajudam a ganhar eleições. Os debates já não ajudam a ganhar eleições. Os discursos e os comícios inflamados já não ajudam a ganhar eleições. Já para não falar nas arruadas, mas essas, provavelmente, nunca ajudaram.
No que ao marketing político diz respeito, o produto já não faz ganhar eleições, a publicidade já não faz ganhar eleições e nem mesmo os aparelhos partidários fazem ganhar eleições.
O curioso é que qualquer um deles as faz perder.
O problema é que, num mundo assim, os eleitores andam mais ansiosos porque só depois de umas eleições descobrem em que é que votaram, realmente.