Nas próximas eleições, a abstenção nos Açores tenderá a ser elevada. A única forma de a combater será com propostas credíveis que respondam aos problemas do dia-a-dia das pessoas e que solidifiquem a unidade açoriana, claramente abalada nos últimos anos. Espera-se, da parte dos candidatos, soluções concretas que resolvam os problemas de mobilidade dos açorianos, de acesso à saúde e ao ensino e problemas relacionados com as assimetrias económicas que se estão a avolumar face a um desenvolvimento turístico que em nove ilhas dificilmente poderá ser igual.
Há que pensar noutros modelos de gestão da coisa pública, nomeadamente no que respeita aos transportes, saúde e educação.
Cada parcela insular tem uma vivência própria. Atendendo a esse facto, porque não equacionar novos modelos de governação que passem pelo reforço da entidade ilha? Considere-se que os nossos vizinhos canários integram uma região autónoma com duas províncias e cada ilha possui uma estrutura governativa própria, os Cabildos Insulares, com dotações orçamentais próprias e com amplos poderes nos domínios do ambiente, da energia e até dos transportes, que interferem na atratividade turística de cada ilha.
Em plena Europa Central, a Suíça, que não deixa de ser um estado unitário, subdivide-se em dezenas de cantões, que têm, relativamente uns aos outros e ao governo central, poderes em muitos aspetos mais amplos do que os que nós temos em relação a Lisboa.
Quanto a consequências eleitorais nos Açores das prestações partidárias nacionais, o último governo PSD/CDS PP, então liderado por Passos Coelho, deixou marcas profundas na sociedade portuguesa, difíceis de apagar. Rui Rio ainda não se livrou dessa carga negativa, não obstante ter optado por um estilo novo, mais pragmático e objetivo, mas que também não colhe face à habilidade e subtileza do seu par António Costa. No caso de um novo desaire eleitoral para o PSD, que certamente acontecerá face à excelência dos resultados económicos, entre outros, do PS, Rio, muito provavelmente, não terá condições políticas para continuar. Junta-se às suas dificuldades na liderança a cedência que fez, nas últimas eleições europeias, a Rangel no caso de Mota Amaral, relegando o ex-Presidente da Assembleia da República e fundador da Autonomia Constitucional para um oitavo lugar na lista de candidatos, o que foi interpretado por muitos como um flagrante desrespeito à autonomia do PSD regional, onde Amaral milita. Este facto manchou a tradicional imagem autonomista do PSD nacional relativamente aos Açores. Rio junta-se assim a Cavaco Silva, de má memória para os açorianos, tido como um inimigo dos Açores, que, com as suas decisões prepotentes face ao Estatuto da Região Autónoma dos Açores, prejudicou enormemente a prossecução da Autonomia Constitucional açoriana. A par de tudo isto, alguns social-democratas, não obstante terem responsabilidades na governação autárquica, aceitaram alinhar com as diretrizes de Lisboa, à revelia dos órgãos dirigentes regionais.
Até às eleições autonómicas, antevê-se, pois, um PSD Açores desencontrado, sem rumo definido, com dirigentes cautelosamente a posicionar-se perante a presumível liderança que virá a seguir, visto o atual líder, Alexandre Gaudêncio, por força de guerrilhas internas, às vezes inócuas, mas desgastantes, no partido, e de um processo judicial à sua atuação camarária no Município da Ribeira Grande, terá grandes dificuldades em continuar a liderar o partido.
O PS, bem melhor colocado – e César foi cauteloso ao anunciar a sua saída da Assembleia da República só após estudos de opinião darem o PS Açores com mais de 20 pontos percentuais de vantagem nas legislativas nacionais – tem dois problemas a resolver: a abstenção, por um lado consequência do desencanto dos açorianos com a política em geral, que é transversal a todos os partidos, e acontece igualmente com os continentais, e a mitigação das crescentes desigualdades no desenvolvimento regional, patentes nos últimos dados estatísticos. Contudo, é mais que certo que o Partido Socialista sairá vencedor absoluto nas próximas regionais.
Sobre um Bloco de Esquerda objetivo, um PAN em ascensão, um PCP desvanecido e um CDS PP mergulhado em lutas intestinas sob a liderança de um dirigente ultrapassado, não arrisco previsões.
Assine por um ano a VISÃO, VISÃO Júnior, JL, Exame ou Exame Informática e oferecemos-lhe 6 meses grátis, na versão impressa e/ou digital. Saiba mais aqui.
