À vista dos resultados da primeira volta, seria um erro grosseiro e uma ingenuidade fatal considerar a eleição presidencial francesa como resolvida. É verdade que as sondagens dão Emmanuel Macron como o vencedor provável da próxima ronda, a decisiva. Mas faltam ainda quinze dias de campanha – uma eternidade, se tivermos em conta a extrema complexidade da situação e os ódios viscerais que dividem a sociedade francesa. Não podemos esquecer que estamos perante um clima social de profundo descontentamento. As inquietações sobre o presente e o futuro podem levar a grandes oscilações do pêndulo eleitoral.
E a criar surpresas. Sobretudo quando a adversária é Marine Le Pen. Deve-se reconhecer que a líder da Frente Nacional é um exemplo de combatividade. Sabe falar às massas. O seu discurso xenófobo e populista mete medo a muita gente, incluindo a mim, mas o facto é que empolga um bom número de eleitores. Onde nós vemos os velhos tiques do fascismo e do nacionalismo primário, os que se sentem excluídos pela abertura das fronteiras e pela globalização vêem a salvaguarda dos seus interesses e dos valores tradicionais que fizeram da França, na cabeça absurda dos mais nostálgicos, a “filha primogénita” da Igreja Católica.
Por outro lado, os institutos de sondagem também ficaram a ganhar. Investiram bastante na modernização dos métodos de recolha das opiniões e de análise dos dados. Por isso, o anúncio que agora fazem sobre a provável vitória de Macron deixa muita gente entusiasmada. Ao nível da bolsa de Paris, foi dia de festa, com o índice das ações CAC 40 a subir de modo único e espetacular: mais 4% num só dia, é obra! Só faltaram os tambores e as “majorettes”!
Mas nestas matérias, recomendo muita prudência. A euforia não é boa conselheira.
A maioria dos cidadãos franceses quer um sistema político novo. Essa foi a principal mensagem que saiu dos resultados. Sublinho que cerca de 45% dos eleitores votaram por candidatos com propostas obviamente radicais.
Neste contexto, para ganhar, Macron tem que convencer uma parte significativa dos indecisos que a sua eleição levará a uma renovação política em larga escala. Trata-se de jogar com um baralho novo, que atraia a esquerda e a direita em número suficiente, sem no entanto alienar o centro moderado. Simultaneamente, deverá insistir na ideia-chave que Marine Le Pen no Eliseu teria como consequência o caos económico e social bem como a confrontação racial e a violência antidemocrática. A narrativa de Macron deve ser construída em torno de uma França próspera, segura e líder na Europa, consigo na Presidência, mas que seria mais pobre, frágil, isolada e profundamente fraturada, caso a dita dama chegue ao poder.
Creio ser possível dar credibilidade a uma mensagem desse tipo. E, em seguida, ganhar a presidência.