É verdade: a torre dos Clérigos chegou a estar ao serviço da população do Porto mas não apenas como campanário de onde saia, através do som dos seus sinos, o anúncio das celebrações litúrgicas. Por exemplo, serviu de telégrafo. Isso aconteceu na segunda metade do século XIX. Por esse tempo, a ligação entre o Porto e Londres fazia-se, de quinze em quinze dias, através dos barcos da companhia britânica de navegação P. & O. (Peninsular & Oriental).
Sabe-se como era intenso, naquele tempo, o tráfego marítimo entre as duas cidades. Os comerciantes do Porto, que tinham ligações comerciais com a Inglaterra, aguardavam impacientes a chegada do barco, que lhes trazia as letras de câmbio e a correspondência com novas encomendas. Mas muitas vezes só tomavam conhecimento de chegada do barco quando ele já havia fundeado no rio Douro e mal tinham tempo para preparar novos embarques. Para colmatar esta lacuna a Associação Comercial do Porto fez um convénio com a irmandade dos Clérigos nas seguintes condições: logo que a associação, através dos eu telégrafo, tomasse conhecimento de que o barco da Mala Inglesa, como também era conhecido, chegasse ao largo da barra do Douro, comunicava com a Irmandade que fazia içar na torre uma espécie de mastro na horizontal com duas bandeiras nas extremidades. Era o sinal de que o navio estava a dois dias de demandar a barra. Os comerciantes mal vissem o sinal tinham assim algum tempo para preparar mercadorias e cartas. Engenhoso, não acham?