Em abril de 1851, aqui, no Porto, Camilo Castelo Branco desancou, à bengalada, um jornalista, por este ter publicado no jornal portuense “A Pátria“, de que era redator, uma notícia em que insinuava que o escritor era “amante de certa cómica de Lisboa, muito orgulhosa e muito mal-educada…” Por cómica, entenda-se a maneira pejorativa de dizer atriz. A notícia também envolvia, de forma nada lisonjeira, mais duas pessoas: o poeta Faustino Xavier de Novais e outro sujeito que não foi identificado.
No dia seguinte ao da saída da notícia, as três pessoas nela indiretamente visadas procuraram o jornalista no teatro de S. João, onde ele ia todas as noites. O edifício do teatro era o antigo, que ardeu em 1908. O atual é obra do arquiteto José Marques da Silva. Os três “ofendidos ” tinham um objetivo comum: desancar o jornalista. Naquele tempo era esta, aliás, a maneira mais prática de tirar desforço de um delito de imprensa. Mas era tudo feito com elegância, com princípios, muita civilidade. Duvidam? Vejam então como tudo se passou.
A partir daqui apoiamo-nos memória numa crónica que Ramalho Ortigão publicou sobre este assunto. Quando Xavier de Novais chegou ao átrio do teatro já lá estava Camilo que, exibido um enorme bengalão o informou do seguinte: “Quem lhe dá aqui sou eu, que cheguei primeiro “. Xavier de Novais subiu então ao balcão, no primeiro andar, onde estava o jornalista. À porta, brandindo um enorme estadulho, encontrava-se o sujeito não identificado que, vendo Xavier de Novais assomar ao cimo das escadas se lhe dirigiu nestes termos: “Se V. Exª vem também para espancar o repórter rogo-lhe o obséquio de esperar por ele lá em baixo…” Ao que o interpelado respondeu: “ mas lá em baixo já está o senhor Camilo Castelo Branco….! “ Responde novamente o cidadão não identificado: “nesse caso suplicar-lhe-ei que me faça a fineza de ir para esse primeiro patamar que eu encaminharei para lá os passos do jornalista para cujo primeiro encontro sou eu que tenho a vez. Há dez minutos que aqui estou. Assim, bem vê…” S
egundo as crónicas da época o jornalista apanhou mesmo pela medida grande e o caso seguiu para tribunal, como uma “querela de ferimentos e bofetadas “, mas sem consequências para os agressores.